Acesso à cultura possibilita aos jovens acolhidos novos olhares no projeto Caminhos Literários
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- 04-07-2025
Vivenciar a cultura de perto pode trazer benefícios para pessoas de todas as idades. Nos jovens, esse acesso é ainda mais importante. Quando esses jovens estão passando por medidas socioeducativas, se torna indispensável. Pensando nisso, o IV Caminhos Literários levou adolescentes de dois Centros Socioeducativos do Ceará, nesta sexta-feira (04/07), para conhecer o Cineteatro São Luiz, no Centro de Fortaleza.
Tendo como tema “Adolescência em Cena”, a quarta edição do Caminhos Literários, promovido pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com tribunais do país e demais órgão públicos, debate o papel do audiovisual e das expressões culturais juvenis na construção de identidades, pertencimento e cidadania. Na primeira vez no local, uma das internas ficou encantada com a história e arquitetura do teatro. “É muito bonito. Chama muita atenção: a construção do teatro, os lustres, a pintura, os detalhes.”
Ela conta que no Centro, eles têm um tempo dedicado a atividades culturais. “A gente não ia conhecer e pensar em outras coisas se não tivessem essas atividades. Fazendo isso, a nossa mente esquece o mundo, pensa que o tempo vai passar e que a gente vai ter um futuro melhor”, destacou.
Além de conhecer o espaço, os jovens dos Centros Socioeducativos Canindezinho e Aldaci Barbosa (em Fortaleza) puderam assistir ao filme “Cabeça de Nêgo”, produzido no Ceará. A experiência também trouxe para outro interno o desejo de aprofundar o conhecimento na área. “Eu fazia um curso na Casa da Juventude, na parte de gravar, de editar. Ver aqui aumentou mais a vontade de continuar.”
À frente do Núcleo Socioeducativo do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Carcerário e de Execução de Medidas Socioeducativas (GMF) do Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), o juiz Epitácio Quezado Cruz Júnior ressaltou a importância de fomentar a cultura na ressocialização. “O principal resultado é vermos os jovens internos como protagonistas, que eles lá fazem bons trabalhos, quase profissionais. A gente deve valorizar e sempre colocar pra eles que aquilo ali pode ser um primeiro contato com a arte, com a cultura, e que, se eles souberem aproveitar, vão levar isso pro resto da vida”, explicou.

Em parceria com a Superintendência do Sistema Estadual de Atendimento Socioeducativo (Seas), o projeto visa trazer novas experiências a esses jovens. “A gente consegue mostrar para eles que é possível vivenciar e trilhar um outro caminho longe da criminalidade, da violência. Muitos não têm acesso a políticas públicas, então a cultura e o lazer ficam em último plano. Para nós e para eles é um momento ímpar, um momento de vivência mesmo e de superação de todas essas dificuldades”, contou a assessora de Diretrizes Socioeducativas da Seas, Ana Paula Iris.
A coordenadora de Diversidade, Acessibilidade e Cidadania Cultural da Secretaria de Cultura do Estado, Helena Campelo, falou sobre a vivência nessa experiência do cinema, de conhecer também sobre como ocorre a produção. “A gente escolheu produções cearenses, até para eles construírem uma referência também do que é a produção do audiovisual no Estado do Ceará, para terem essa oportunidade de acessarem todo o percurso, todo o caminho, de entender com quem produz, com quem faz cinema, de alguma forma entender o ponto dessa construção, dessa referência cultural”, disse.
Colaborador do GMF, o juiz Fernando de Souza Vicente destacou que essas atividades são parte importante das medidas socioeducativas. “Estudo, educação, esporte. Mostrar possibilidades. Tudo faz parte dessas medidas, porque eles não tiveram oportunidade de enxergar. A gente mostrando essas oportunidades, às vezes eles vislumbram e se identificam, vão ter a força de buscar, sabendo que podem ter um futuro naquilo que está sendo mostrado a eles.”
CAMINHOS LITERÁRIOS
O Caminhos Literários está na sua quarta edição. Foi iniciado nessa quinta-feira e segue até o próximo dia 9 de julho. Teve início em 2022 e é uma das atividades do Programa Fazendo Justiça, executado pelo CNJ em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), para refletir desafios no campo da privação de liberdade.
Além de ser a primeira ação nacional de incentivo à leitura entre jovens em conflito com a lei, foi o primeiro evento realizado pelo CNJ com participação ativa de adolescentes em privação de liberdade. No TJCE, o GMF é responsável por acompanhar as ações voltadas aos jovens que estão cumprindo medidas socioeducativas.
