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Delegado e dois inspetores da Polícia Civil são presos por extorsão

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03.12.2010 POLÍCIA
Por Elvira Sena – Da Redação
O secretário de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), Roberto Monteiro, assinou ontem à tarde o pedido de exoneração do delegado titular de Juazeiro do Norte, Levi Gonçalves Leal. O documento, enviado pelo superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, chegou às mãos do secretário no momento em que ele concedia entrevista coletiva para falar da Operação Terremoto, organizada em Juazeiro pela Corregedoria Geral da SSPDS, em parceria com a Polícia Federal (PF), que culminou com a prisão do delegado, e mais dois inspetores da Polícia Civil e um ex-PM. O grupo é acusado de extorsão, receptação, peculato e formação de quadrilha.
Alem do delegado foram presos os inspetores Anderson Soares Pimenta e Francisco Márcio Correia Cruz e o ex-policial militar José Erasmo Gomes de Moraes. Continua foragido o soldado PM Ricardo Antônio Bento Burgos. ?Os principais são Anderson e Márcio. O primeiro tem três processos, sendo um de tortura e dois de extorsão, e o segundo responde por extorsão?, revelou o secretário.
Indagado se existia alguma relação entre a quadrilha e um fato descoberto pela Polícia há pouco tempo, em que foi flagrado um caso de agressão por parte de um policial, o secretário disse que isso será investigado. ?Fizemos reuniões aqui e na Corregedoria e nos foi apresentado um vídeo, onde é mostrado um cidadão sendo agarrado e
batido?, contou o secretário.
A Operação pretendia realizar buscas e executar mandados de prisão contra policiais civis e militares que, há algum tempo, realizavam operações criminosas, como a extorsão contra pessoas que tinham em seu poder veículos ?clonados?. Setenta policiais participaram da Operação, sendo 56 da PF e 14 policiais civis e militares. A delegada Keyla Fernandes Lacerda esteve à frente do caso. Foram apreendidos um Celta preto e um Siena. Outros dois carros (ambos Pálios) ainda não foram localizados. Mais um veículo clonado, um Honda Fit , foi encontrado com o delegado de Juazeiro. Anteontem, à noite, a Polícia o descobriu com Anderson, antes do início da Operação.
O carro, inclusive, tem um clone em São Bernardo do Campo (São Paulo). A dona do carro paulista entrou em contato com a Polícia porque recebeu multa de trânsito de Fortaleza, sem nunca ter vindo à capital cearense.
O secretário informou que todos os veículos estão sendo examinados por peritos da Polícia Civil. Sobre a participação da PF, o secretário esclareceu que foi um apoio. ?Os policiais federais ajudaram nas ações dos policiais civis e militares e da Corregedoria Geral?.
COMO ERA O GOLPE
Através dos sistemas de informação da Polícia e de informantes pela cidade, o grupo tomava conhecimento da existência dos ?carros clonados? (veículos que tinham a placa de outro carro). ?Eram veículos roubados ou com alguma pendência civil ou administrativa?, explicou o secretário. Em Juazeiro, esses carros são chamados de ?Pokemon?.
Os policiais, ao receber os clones, em vez de apreendê-los, extorquiam as pessoas que estavam com esses veículos. ?Soubemos de casos em que houve até sequestro e tortura?, contou o secretário. Há três meses, o inquérito que apurava o caso estava aberto. Mas desde o começo do ano as investigações eram desenvolvidas. Roberto Monteiro revelou que tomou conhecimento de casos de dez pessoas extorquidas. Desses, quatro estão sendo apurados atualmente. ?Para nossa surpresa, o delegado titular de Juazeiro usava um dos carros clonados. Daí porque a Corregedoria resolveu abrir os processos?.
DELEGADO EM LIBERDADE
Levi Leal ficaria em uma Sala de Estado Maior, designada pelo superintendente da Polícia Civil. Mas, ainda ontem à noite, o juiz de Direito José Acelino Jácome Carvalho concedeu Habeas Corpus preventivo ao delegado. A ação foi impetrada pelo advogado Jorge Luiz Pereira. Os dois policiais civis presos ficarão na Delegacia de Capturas, em uma cela especial e o ex-PM será conduzido ao Batalhão de Polícia de Choque (BP-Choque). Os dois inspetores da Polícia Civil chegaram ontem à tarde a Fortaleza, escoltados pela PF. Antes de seguir para a Capturas, ambos foram levados ao Instituto Médico Legal (IML), para exame de corpo de delito. Levi Leal chegou à capital no final da tarde. Com a prisão dele, quem fica à frente da Delegacia Regional de Juazeiro do Norte é o adjunto, Washington Moraes.
?Todas as instituições humanas são passivas de ter pessoas erradas, com desvio. Aqui existe uma possibilidade grave disso. Mas não vejo como fim do mundo.É adotar medidas para botar para fora.?, opinou Roberto Monteiro. ?Na Polícia Civil tem os íntegros, mas também há os bandidos. Na PM também há casos assim?.