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Sobram vagas de trabalho para ex-detentos

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26.02.2011 cidade
Com população carcerária de 15 mil presos no Ceará, Sejus tenta capacitar os presos com cursos e oficinas
Além da falta de qualificação profissional dos presos no Ceará, ainda há resistência das empresas na contratação
No Ceará, conforme dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), há 23 vagas de trabalho disponíveis para os ex-presos, detentos (regime aberto e semiaberto) esperando apenas alguém que as ocupem. Com uma demanda populacional de 15 mil presidiários, o por quê de ainda haver oportunidades em aberto, tamanha é a oferta? As contratações esbarram na falta de qualificação, afirma a juiza coordenadora do projeto Começar de Novo, Maria das Graças Quental.
“É muito importante a reinserção deles no mercado de trabalho, mas sem estudo fica muito complicado. Com emprego, o detento tem uma nova chance de recomeçar a vida, dificilmente volta a reincidir”, aponta a juiza.
Há uma semana trabalhando como auxiliar de serviços gerais, Rogério Pinto, 31, se diz felizardo por ter recebido uma oportunidade, após quase dois anos preso. Para ele, o pior de tudo é o preconceito que acaba fechando as portas das empresas quando descobrem que ele já esteve, um dia, atrás das grades. “Seria bom se todos pudessem trabalhar como eu. A sociedade perde a crença na gente depois que vamos para a cadeia”, desabafa.
Preconceito
Segundo o CNJ, 2.848 vagas para esse público foram registradas desde 2009, mas apenas 445 foram aproveitadas, em torno de 15%. As oportunidades estão disponíveis para diversas profissões, como pintor, mecânico, cozinheiro e pedreiro. Uma das propostas aprovada pelo Conselho é o fechamento de parcerias com o Sistema S (composto pelo Serviço Social da Indústria e o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial).
Triste com esta notícia de vagas “encalhadas” no cadastro do CNJ, a supervisora do Núcleo de Assistência aos Presidiários e Apoio ao Egresso (Napae) da Secretaria de Justiça do Ceará, Keydna Cordeiro, insinuou que pode ter havido uma desorganização das ações do projeto Começar de Novo, uma falta de “integração dos sistemas” visto que sobram, segundo ela, pessoas interessadas em trabalhar e faltam sim oportunidades de emprego. “Temos dezenas de cursos e oficinas de capacitação”, diz.
“Há 180 egressos empregados na Sejus e cada dia surgem mais querendo chances. Como pode sobrar? Na segunda-feira teremos reunião com o Conselho para ocupar já essas 23 vagas”, ressalta. Segundo Keydna, a reinserção dos presos é uma ação eficaz para evitar o aumento da criminalidade e o crescimento da população carcerária.
Para a supervisora, a reincidência dos detentos ainda é alta, em torno de 80%. Aumentando estas políticas de incentivo à qualificação e ao emprego, haveria uma possibilidade maior de redução desse número. “Mais de 85% dos empregados não voltam para o crime”, conclui Keydna Cordeiro.
Descontente com as ações de garantia de emprego, dignidade e renda aos egressos, o coordenador da Pastoral Carcerária, Marcos Passerini, aponta que, além das políticas estatais, falta mudança de cultura para por fim ao preconceito dos empresários contra os detentos. “Temos as obras da Copa do Mundo chegando. Deviam capacitar e empregar os que estão em regime aberto. Falta parcerias”.
O cadastro do CNJ está disponível no site: http://www.cnj.jus.br/comecardenovo/index.wsp
IVNA GIRÃO
REPÓRTER