Conteúdo da Notícia

Inaugurada há 9 meses, emergência nunca funcionou

Ouvir: Inaugurada há 9 meses, emergência nunca funcionou

07.12.2010 Ceará
Inaugurada em ano eleitoral, a emergência do Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias, em Aracati, não funciona. Além desse problema, médicos do sistema de saúde do município não recebem salários há três meses
Mesmo inaugurada há nove meses, a emergência do Hospital Municipal Dr. Eduardo Dias (HMED), unidade considerada polo pelo governo do Ceará, nunca funcionou. A denúncia consta na Ação Civil Pública enviada à Justiça, na última quarta-feira, pelo Ministério Público em Aracati.
De acordo com o promotor Alexandre Alcântara, quase um ano depois da solenidade que contou com a presença do então secretário da Saúde do Estado, João Ananias, e outros políticos, em ano eleitoral, pacientes de Beberibe, Fortim, Itaiçaba e Icapuí – municípios que mandam segurados do SUS para Acarati, são desviados para Fortaleza. ?Essa demanda é que contribui para lotar o Instituto Dr. José Frota, por exemplo?, pontua.
Na ?emergência nova? os promotores Alexandre Alcântara, Cledson Ramos e Emilda Afonso constataram ainda a falta de equipamentos hospitalares. ?Uma típica inauguração de ano de ano eleitoral. Caso patente de improbidade administrativa?, escrevem na Ação encaminhada à Justiça na semana passada.
Para o médico José Jorge Pereira Alves, presidente do Conselho Municipal de Saúde, um descuido com o dinheiro público e desprezo com quem tem de se valer do Sistema Único de Saúde. Aos promotores, ele revelou que a emergência do hospital, inaugurada com direito a placa, foi projetada para funcionar no térreo do hospital Dr. Eduardo Dias.
?Situação que traz sérios transtornos, pois o hospital funciona em um prédio construído sobre colunas e deveria ter um elevador para transportar pacientes?, detalha na Ação Civil Pública a que O POVO teve acesso.
No site oficial da Prefeitura de Aracati, um texto informa sobre a ?inauguração da 1ª etapa da emergência do HMED?. A nota relata que a solenidade contou com lideranças políticas, comunitárias e convidados ?como deputados e prefeitos da região?. E informa ainda que a ?emergência conta (no presente) com salas de acolhimento, de exames e consultórios e vai atender a um público estimado de 160 mil pessoas. População dos municípios (Aracati, Fortim, Beberibe, Icapuí, Itaiçaba) atendidos pelo hospital polo?.
Segundo o site, o prefeito Expedido Ferreira ?falou na oportunidade sobre o investimento efetivado na emergência de se dotar a região de um equipamento para evitar o desconforto da transferência de pacientes para Fortaleza?.
Plantões descobertos
A falta de médicos durante os plantões no maior hospital público de Aracati é uma constante. Nos dias 4, 5 e 6 do mês passado, por exemplo, não havia ninguém. O sufoco e o risco de uma tragédia levaram o médico José Airton Lopes Filho a denunciar a situação ao Ministério Público e ao Conselho Regional de Medicina.
Ele, que entregou o cargo de diretor técnico há pouco mais de um mês, informou aos promotores de Aracati que cansou de enviar ofícios ao prefeito Expedito Ferreira (PP) ? e à secretária da Saúde de lá, Adélia Araújo.
Nos relatórios, José Aírton afirma que muitos dos plantonistas desistiram de trabalhar por causa do atraso no pagamento de salários. Há três meses estão sem receber.
José Airton contou em depoimento que, além dos salários atrasados, médicos, funcionários e pacientes têm de conviver com a ?obsoleta estrutura física do lugar, equipamentos quebrados e falta de medicamentos?.
E agora
ENTENDA A NOTÍCIA
O Ministério Público aguarda decisão da juíza Socorro Montezuma, de Aracati, sobre os problemas detectados no sistema de saúde pública do município. Pelo menos 151.924 pessoas utilizam o HMED e outros equipamentos.
ALGUNS PROBLEMAS NA SAÚDE PÚBLICA EM ARACATI SEGUNDO A AÇÃO CIVIL PÚBLICA
inexistência no HMED de exame de eletro encefalograma-EEG e paralisação por dois anos do aparelho de eletrocardiograma, que se encontrava danificado.
Inexistência de médicos cardiologistas, urologista, psiquiatra no HMED .
A falta de médicos nos postos de saúde do Córrego da Nica, Córrego dos Rodrigues, Canoa Quebrada, Cohab, Beirada, Cumbe, Majorlândia, Quixaba, Cajueiro, Córrego da Ubarana, Tanque Salgado, Boca do Forno, Santa Tereza, Córrego dos Fernandes, Aroeiras, Lagoa dos Porcos, Preá, Lagoa dos Ferreiras, Girau, Lagoa da Cruz, Lagoa Nova, Lagoa do Cedro, Tábua Lascada, Outeiro e Barreira dos Vianas
Deficiência da estrutura física da maioria dos postos de saúde, onde falta desde fita métrica para medir altura do útero das gestantes até aparelhos de medir pressão arterial (PA) e balança.
A um ano as dificuldades aumentaram quando começaram a faltar alguns exames laboratoriais básicos para os pacientes, inclusive gestantes. Exames como: sumário de urina, VDRL (sífilis), tipagem sangüínea e HIV (aparelho sem funcionamento por um ano, em 2 007).
A inexistência de um aparelho de mamografia, como determina a OMS, sendo que Aracati, pactua alguns exames em um hospital particular de Russas-CE.
Demitri Túlio
demitritulio@opovo.com.br