Conteúdo da Notícia

Testemunhas serão ouvidas hoje sobre morte de estudante

Ouvir: Testemunhas serão ouvidas hoje sobre morte de estudante

14.10.2009 Fortaleza
Miguel Martins miguel@opovo.com.br
Há seis meses a casa está vazia. O quarto da jovem está sendo mudado aos poucos e um pequeno santuário deve ser montado para que as pessoas possam orar pela estudante universitária Francisca Nádia do Nascimento, morta no dia 15 de abril, atingida por um tiro na cabeça quando voltava pra casa, na avenida Dedé Brasil. “Todo mundo queria bem a ela. Tem momentos que eu tenho a impressão de que ela não morreu“, relata Fátima Maria Nascimento, mãe da estudante. Hoje, Fátima estará presente, às 9h30min, na 4ª Vara do Júri do Fórum Clóvis Beviláqua onde três testemunhas serão ouvidas para dar continuidade à apuração do Ministério Público sobre a morte.
Prestarão depoimentos Felipe Ferreira de Brito, motorista da Topic 05 que transportava o policial militar Francisco Carlos Barbosa – acusado de ter atirado na estudante; Carlos Alberto Gomes da Silva, cobrador da van, e Paulo Henrique Sampaio Freitas, estudante que estava próximo à vítima. Francisco Carlos, que também será ouvido, está sendo acusado de ter praticado crime de homicídio duplamente qualificado, por motivo fútil e sem possibilidade de defesa à vítima. “Eu vou estar lá. Fomos aconselhados para ficar fora da sessão, pois podemos nos alterar com o que ele pode dizer, mas não vamos fazer nenhuma manifestação. Da primeira vez meu esposo passou mal quando viu esse policial“.
Lembranças
No quarto da universitária ainda há lembranças da jovem que pretendia cursar Direito, além do curso de História que estava já estava concluindo. “Doei muitos brinquedos dela ao Iprede, mas fiquei com alguns que não me livrarei tão cedo, pois quero ficar com algo na lembrança. Aqui tem mais de 200 livros e apostilas que vou doar para uma instituição de ensino aqui do bairro“, informa Fátima.
Segundo a mãe de Nádia, a maior dor de sua vida foi ver a filha em uma maca no Instituto Doutor José Frota (IJF), sem poder fazer nada. “Foi uma sensação que até hoje não sei explicar. Só consegui olhar para os pezinhos dela. Meu esposo foi vê-la e ao voltar disse que a Nádia já estava com Deus“. Para Fátima Maria, a justiça de Deus está sendo feita e a dos homens também. Nos últimos seis meses o único desejo dela é que o homem que tirou a vida de sua filha seja condenado pelo crime que cometeu. “Eu rezo para que nada de mal aconteça com ele. Só que ele pague pelo seu ato. Soube que ele ainda está trabalhando e isso é inadmissível“.
ENTENDA O CASO
> No dia 15 de abril de 2009, Francisca Nádia estava esperando ônibus na avenida Dedé Brasil, no bairro Serrinha, quando um tumulto ocorreu nas proximidades da parada de ônibus. O PM Francisco Carlos, que estava na Topic 05, é acusado de ter atirado contra pessoas do lado de fora .
> De acordo com um motoqueiro, que presenciou o ocorrido, crianças teriam atirado pedras contra a Topic , e não torcedores de times, como afirmou o policial.
> Assustada, a estudante tentou se esconder atrás de um poste, mas um dos disparos atingiu a cabeça da universitária. Um motorista que passou pelo local levou a universitária até o IJF, mas a jovem não resistiu aos ferimentos e teve morte cerebral dois dias depois.
> No dia 8 de junho, o juiz José Barreto de Carvalho Filho decretou a prisão preventiva do acusado. Mas o Desembargador Luiz Gerardo de Pontes Brigido concedeu alvará de soltura ao acusado.
> Segundo a defesa do réu, o tiro atingiu a nuca da estudante acidentalmente. Ele está respondendo pelo crime em liberdade.
> No dia 17 de setembro foram ouvidas algumas pessoas. Nos depoimentos, há relatos de que o motorista do transporte coletivo diminuiu a velocidade do veículo no momento em que o policial efetuava os disparos.