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José Flávio: um magistrado no universo da literatura

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?Sempre fui um amante dessa arte?. É assim que o titular da comarca de Assaré, juiz José Flávio Bezerra Morais, define seu amor pela literatura. Autor de nove livros e prestes a publicar o décimo, o juiz tem conciliado sua carreira de magistrado com a de escritor, uma forma que ele encontrou de ?sublimar a tensão do dia-a-dia forense?.
Na literatura José Flávio foi precoce. Em 1986, aos 16 anos, começou a escrever seu primeiro livro intitulado ?Milagres do Cariri?, um trabalho de pesquisa sobre sua cidade que durou dois anos. ?Ainda hoje o livrinho é adotado nas escolas daquele município como fonte de pesquisa?, lembra o autor, que vai publicar, até o final do ano de 2009, romance épico de fantasia infanto-juvenil ?Daniel Alecrim e o Amuleto de Luz? (título provisório).
Em 1993, lançou Histórias que Ouvi Contar (contos fantásticos populares); em seguida, publicou mais sete livros, sendo o último A Sombra do Laço, um romance jurídico que narra um julgamento ocorrido no ano de 1838, na cidade de Areia-PB. O livro traz como personagem central o jovem advogado José Antônio Pereira Ibiapina ? que anos depois viria a se tornar o famoso Padre Ibiapina ? defendendo um homicida de apenas 18 anos de idade. ?Na batalha jurídica, o advogado enfrenta seus próprios dilemas pessoais e concebe o que viria a ser sua grande missão, efetivada mais de dez anos depois: a construção das Casas de Caridade por todo o Nordeste. Uma história emocionante e engrandecedora?, explica o versátil escritor, afirmando ainda que prefere o gênero de ?contos fantásticos?, embora já tenha se aventurado, e com sucesso, no gênero romance e na literatura jurídica.
Juiz X escritor
José Flávio faz um paralelo entre a carreira de magistrado e a de escritor. Para ele, escrever significa ?criar, realizar algo divino?. Descobriu que é muito prazeroso escrever uma boa história. ?Tornou-se quase uma necessidade criar tramas, paisagens e personagens, ou seja, dar vida a um mundo imaginário inédito. Ser juiz, por sua vez, representa a oportunidade de poder tornar melhor o mundo real?, distingue.
O juiz-escritor encontra no exercício da magistratura muito subsídio, isto é, histórias e personagens que cruzam diariamente o caminho de um juiz e ganham vida nas páginas de seus livros. ?Entretanto, retira-me, na mesma proporção, o tempo e a tranqüilidade necessários para a concepção e concretização de uma obra literária?, reconhece o autor que, na infância, acreditava que escrever era um dom mágico.
No campo da literatura ele aponta, como principal dificuldade, a falta de estímulo externo para produzir obras. ?É extremamente difícil publicar um livro por uma boa editora; quase um milagre nos dias de hoje?, revela, ao ressaltar que a produção independente também traz muita dificuldade porque a ?comercialização da obra se torna uma tarefa bastante penosa?. Já enquanto magistrado, a principal dificuldade que enfrenta ?é a solidão (social, e até mesmo, infelizmente, institucional)?.
Juiz em Assaré
Localizado a 550 Km de Fortaleza, o município de Assaré ficou famoso nacionalmente em virtude de Antonio Gonçalves da Silva, mais conhecido como Patativa do Assaré, que se notabilizou como uma das principais figuras da poesia oral nordestina do século XX. Compositor sensível e hábil repentista, dotado de uma capacidade intelectual criadora inata, Patativa encontrou na vida cotidiana do homem nordestino um farto material para seus improvisos que tem encantado brasileiros e estrangeiros. Faleceu em 8 de julho de 2002.
É nessa terra fértil de poesia e cultura que o juiz José Flávio exerce a judicatura atualmente. Também responde pelas comarcas vinculadas de Antonina do Norte e Tarrafas. Na comarca de Assaré tramitam 1.300 processos; em Antonina do Norte 1.030 e em Tarrafas 350, informa o magistrado.
Segundo ele, as ações mais comuns que dão entrada em sua Secretaria são referentes a processos previdenciários, possessórios, família, fazenda municipal, juizados especiais cíveis e um considerável número de ações criminais.
O juiz e escritor José Flávio Bezerra Morais tem 38 anos. Natural de Milagres-Ce, é casado e pai de uma filha de 2 anos e 4 meses. Formou-se em Direito em 1997 pela Universidade Regional do Cariri ? URCA. Atuou como juiz de Direito do Estado da Bahia, de dezembro de 2004 a janeiro de 2006, quando ingressou na magistratura cearense através de concurso público. Em novembro de 2008 foi promovido, pelo critério de merecimento, para a comarca de Assaré, onde permanece.