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DP atacada e 13 presos fogem

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15.11.2010 polícia
Pedaços de uma rede foram usados pelos bandidos para manietar o único servidor que estava de serviço na delegacia no momento do ataque. O policial também foi espancado
O inspetor Sérgio Barros contou à Reportagem como foi rendido pela quadrilha. Ele sofreu coronhada na boca e, em seguida, foi deixado trancado numa cela. Os criminosos ainda roubaram sua pistola 0.40
15/11/2010
Na madrugada, uma quadrilha invadiu o distrito policial no Curió. O inspetor que estava de serviço virou refém
O caos nas delegacias de Polícia Civil da Capital e região metropolitana, consequência do acúmulo de presos em seus xadrezes, resultou em uma ocorrência grave no último fim de semana. Na madrugada de ontem, 13 presos foram resgatados por dez homens armados e encapuzados, no xadrez do 35º DP (Curió), na Grande Messejana.
O resgate aconteceu por volta das duas horas da madrugada, quando apenas o inspetor Sérgio Barros fazia a segurança do prédio da distrital e servia como carcereiro para os 18 detentos que ali estavam.
Entre os presos, homicidas, estelionatários, assaltantes e principalmente, traficantes de drogas. Foi um destes que a Polícia acredita ter sido o alvo principal do resgate. Trata-se do paraplégico Anderson Célio de Oliveira Freitas, que foi preso no Município do Eusébio depois de ter assaltado um taxista com o objetivo de que este o levasse para matar um homem.
“Ele queria matar o acusado de deixar-lhe numa cadeira de rodas. Ficou paraplégico depois de ter levado quatro tiros em uma disputa por pontos de tráfico”, contou Sérgio.
Escaparam
Além de Anderson, Sávio Guerra da Silva Lemos, também traficante de drogas do Eusébio, pode ter sido alvo da ação criminosa na delegacia. “Eles eram os mais perigosos que tínhamos no xadrez”, destacou o policial civil. Outros 11 homens fugiram durante o resgate. São eles, Charles Nunes Costa, Elinaldo Alves Gomes, Felipe Pereira Carneiro, José Anderson da Costa, Everton Felipe Sousa de Araújo, Fernando Antônio de Lima Sousa Filho, Wélio Virgulino Mendes, Emerson Adolfo Paulo, Wallison Bruno Pereira Silveira, Flaviano de Almeida Barbosa e Leyory Firmino.
Conforme relato do inspetor Sérgio Barros, os bandidos chegaram à delegacia por volta de 2 horas. Entraram por uma janela de vidro que dá acesso ao pátio externo da DP. “A janela do cartório”, contou o policial. No cartório, cadeiras foram jogadas ao chão e a porta, que estava trancada, acabou sendo arrombada.
No momento em que os bandidos chegaram ao 35º DP, o policial estava em outra sala, deitado num sofá. “Não tive tempo nem de pensar. Quando me dei por conta, estavam os dez homens na sala, me amarrando, amordaçando e me vendando. Minha pistola estava sobre a mesa, ao meu lado, mas não tive como apanhá-la. Também havia uma escopeta de calibre 12, que eles pegaram no momento do resgate”, lembrou o policial.
Sérgio foi agredido com uma pancada na boca – que lhe quebrou um dente – e, em seguida, carregado nos braços pelos bandidos e trancado em uma cela. “Eles levaram muito tempo no resgate, porque havia o cadeirante. Fiquei de olhos vendados e não pude observar mais nada. Quando notei que tinham ido embora, me desvencilhei dos pedaços de rede que usaram para me amarrar e ateei fogo a alguns pedaços de pano, jogando-os para o lado de fora do xadrez. A fumaça iria chamar a atenção dos vizinhos”, contou.
Os cinco presos que permaneceram na delegacia, na outra cela, ajudaram a chamar a atenção para o xadrez, batendo com vários objetos nas grades.
“Foi quando um vizinho notou que algo estava errado e gritou de fora, perguntando o que estava havendo. Um dos presos alertou sobre a fuga e a Polícia foi acionada, chegando pouco tempo depois”, relatou Sérgio. Além dos presos, a quadrilha levou a pistola do policial. A escopeta calibre 12 foi deixada numa mesa. Ontem pela manhã, um grande efetivo policial militar continuava mobilizado no sentido de recapturar os fugitivos.
Buscas
Para o delegado Jairo Pequeno, diretor do Departamento de Polícia Especializada (DPE), “a hiperlotação das delegacias é um problema que só tende a resultar em fatos como estes”.
Jairo explicou que, atualmente “existem 640 presos nas delegacias, que não são o local onde eles devem permanecer por tanto tempo. Nos últimos 30 dias, apenas 30 vagas foram disponibilizadas para a transferência de detentos para os presídios e, por esta razão, o acúmulo ficou maior”. O problema da retenção de presos nas delegacias foi abordado em matéria publicada pelo Diário do Nordeste na edição de ontem, com o título “superlotação de presos nas DPs gera polêmica”. “A situação está insustentável”, reconheceu o delegado Jairo Pequeno.
O fato foi gerado há duas semanas, depois que o juiz da Vara das Execuções Penais e Corregedoria dos Presídios, Luiz Bessa Neto, baixou uma determinação proibido as Casas de Custódias e presídios da Grande Fortaleza de receberem novos presos, pois estas unidades já estão superlotadas.
Diante da decisão judicial, as pessoas que vêm sendo detidas sem flagrante ou por determinação da Justiça (prisões preventiva ou temporária), estão ficando nos xadrezes das DPs. Somente na Delegacia de Capturas há cerca de 100 presos.
NATHÁLIA LOBO
REPÓRTER