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Nem mesmo a poliomielite o impediu de realizar os seus sonhos

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Brenda Alvino
Jornalista

Na terceira reportagem da série “Judiciário Inclusivo: Nós também fazemos Justiça”, publicamos a história do servidor William Vasconcelos, acometido de poliomielite na infância. São 15 anos de serviços dedicados à Justiça e uma vida inteira de determinação e coragem deste sonhador que nunca desistiu dos seus objetivos

A perseverança e a força de vontade para conquistar objetivos são fundamentais, seja na vida pessoal ou profissional. Somos movidos por sonhos e traçar metas a fim de alcançá-los nos faz mais fortes para transpor as dificuldades. William Vasconcelos é um exemplo de quem conseguiu vencer barreiras e realizar grandes sonhos: um deles, ingressar no serviço público.

Ele teve poliomielite (doença viral que causa paralisia dos membros) aos dois anos de idade. Chegou a fazer cirurgias e sessões de fisioterapia para voltar a andar, sempre com o apoio incansável da mãe Cáritas Vasconcelos. Aos 16 anos, decidiu parar com o tratamento e aceitou conviver com as limitações físicas, sem se lastimar. “Tive as dificuldades de uma pessoa com deficiência, mas nunca fui de lamentar. Lutei e ainda luto muito para vencer todas as barreiras que surgem”, afirma.

Sua determinação o fez ser aprovado em concurso público, comprar um apartamento e realizar outras metas. Orgulhoso das conquistas, William conta que tudo o que pretende fazer, se empenha da melhor maneira possível. Foi assim quando começou a trabalhar em casa, dando aulas de reforço escolar. “Passei quase oito anos fazendo isso. Começava às 8h e terminava às 18h, às vezes 20h. Nesse período, também estudava para concursos. Fiz dois: Correios e Tribunal de Justiça do Ceará, e fui aprovado nesse último para o cargo de Auxiliar Judiciário.”

Com 15 anos de serviços dedicados ao Tribunal, hoje está lotado na Comissão Estadual Judiciária de Adoção Internacional. Porém, antes de assumir as funções, estava descrente. “Eu pensava: Não existem vagas para pessoas com deficiência, é mentira. Eles nunca vão me chamar.” Ele fez o concurso em 2002 e, somente em maio de 2005, recebeu uma ligação, inesperada. “Nesse dia eu dava aula para um aluno de 12 anos. O telefone tocou, eu atendi. Era uma funcionária do Tribunal dizendo que eu estava sendo convocado para assumir. Eu perguntei: Moça, você tem certeza?!, porque isso vai mudar minha vida. Depois que desliguei o telefone, comecei a gritar de alegria, e o meu aluno disse: ‘ficou doido’. Foi muita felicidade!”, relembra.

APOIO DO TJCE
Após assumir a vaga, os desafios não acabaram. A primeira dificuldade foi a locomoção no trajeto casa-trabalho. “No início foi um sufoco ir trabalhar todos os dias. Tinha transporte para os funcionários, mas não havia carro adaptado para cadeirantes. Então, o Tribunal exigiu da empresa contratada que disponibilizasse veículo adaptado para atender minha realidade. Depois, um outro colega, também cadeirante, passou a fazer uso desse direito”, relata. Assista ao vídeo.

Além disso, o Tribunal providenciou acessibilidade no banheiro para atendê-lo adequadamente. “Verdade seja dita, o Tribunal sempre me deu total apoio para que eu pudesse desempenhar minhas funções”, reconhece o servidor, que é formado em Recursos Humanos pela Metodista de São Paulo, e tem pós-graduação em Administração Judiciária.

PRODUTIVIDADE MAIOR NO TELETRABLAHO
Nesse período de TeleTrabalho, o auxiliar judiciário está realizando serviço de adoções nacionais e internacionais. Segundo ele, a sua produtividade aumentou consideravelmente porque “não há o cansaço gerado pelo deslocamento. Quando me canso, saio do computador, deito um pouco e depois volto”. Uma vitória que ele comemora são as medidas adotadas pelo Tribunal, antes mesmo da pandemia, que foram a redução de horário em até duas horas e o regime de TeleTrabalho para casos específicos, como é o dele. “Essas medidas me ajudaram muito”, festeja.

FELIZ NO AMOR
Outra conquista, capaz de fazer os seus olhos brilharem, e que já dura 11 anos, está no campo amoroso. Casado com a esteticista Elizabeth Silvestre, é um homem “feliz e realizado.” Eles se conheceram no bairro São Gerardo, onde moram até hoje. Ela passava em frente à casa dele para trabalhar em um salão de beleza, e sempre desejava bom dia do outro lado da rua. Certa vez, William teve coragem e disse uma gracinha. “Não vai atravessar a rua hoje? Ela atravessou, conversamos, e marcamos um passeio para o fim de semana. Foi o nosso primeiro encontro”.

Oito meses depois estavam casados. “Desde o começo eu sabia que ela era a pessoa certa para mim. Eu me sinto muito bem ao lado dela. Sinto-me seguro, pois ela é especial. E minha mãe a adora também.”

Hoje Elizabeth tem o seu próprio espaço de beleza, com profissionais cabeleireiros, esteticistas e manicures trabalhando no estabelecimento. “Ajudei no começo. Ela tinha umas economias e eu também, e juntos iniciamos esse negócio. Mas ela é ótima profissional e empresária, não precisa de mim”, elogia o marido.

APAIXONADOS ATÉ PELO MESMO TIME
Uma só carne. E um só time. O casal também nutre a mesma paixão pelo mesmo time de futebol: O Ceará Sporting Clube. No seu tempo livre, William criou um canal no YouTube, intitulado Caçador Alvinegro, lançado recentemente, onde publica vídeos em que faz comentários referentes ao time. “Faço com muito prazer. Eu e minha esposa somos sócios torcedores do Ceará. Vamos juntos a quase todos os jogos aqui no Castelão.”

Além do canal, tem também um grupo no Facebook, com o mesmo nome e objetivo. “O Ceará é o meu lazer preferido. Meu pai me levava para o estádio e me deixou de herança essa paixão. Nós assistimos todos jogos aqui no castelão da Copa do mundo de 2014 e fomos para as olimpíadas do Rio”, ressalta o torcedor apaixonado.