TJCE promove palestra sobre masculinidades e o uso das redes sociais por crianças e adolescentes
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- 13-10-2025
O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio do programa “Equidade é Compromisso Conjunto: Refletindo sobre Masculinidades no Poder Judiciário Cearense”, promoveu a palestra “Masculinidades em tempos digitais: precisamos falar sobre crianças e adolescentes”. A iniciativa foi do Comitê Gestor de Equidade de Gênero e da Coordenadoria de Cultura e Engajamento (SGP), com apoio da Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec).
O encontro nessa sexta-feira (10/10) abordou o exercício da masculinidade tradicional nas redes sociais, discutindo seus impactos sobre crianças, adolescentes, mulheres e homens. O presidente do TJCE, desembargador Heráclito Vieira de Sousa Neto, falou sobre a relevância da temática. “É necessário que tenhamos a mente aberta para nos aprofundarmos em temas que vão além do Direito, da técnica de julgar e das atividades estritamente ligadas à função jurisdicional. O assunto em questão é urgente e está presente na vida de todos nós, inclusive daqueles que não têm filhos. Precisamos buscar caminhos para superar as dificuldades, os vícios e os danos que o mundo virtual, da forma como está hoje, causa em todos nós.”
Durante a palestra, foram exploradas as consequências do comportamento digital contemporâneo, especialmente no que diz respeito à influência sobre meninas e meninos. O debate destacou os desafios relacionados ao uso excessivo de telas e os perigos do consumo descontrolado de conteúdo online, que muitas vezes reforçam padrões de comportamento nocivos e dificultam o desenvolvimento emocional e social saudável das novas gerações.
A juíza e membro do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, Ana Cristina de Pontes Lima Esmeraldo, destacou o papel do Poder Judiciário na promoção de espaços de escuta e reflexão sobre o tema. “Discutir a realidade da hiperconexão de crianças e adolescentes nas redes sociais e o risco a que estão submetidos, principalmente na questão que envolve o respeito entre os gêneros, é excelente tanto para atuação profissional como para a nossa vida pessoal e familiar. E ouvirmos profissionais de outras áreas do conhecimento amplia nosso olhar, o que é muito enriquecedor”, afirmou.
A professora doutora Ana Rita Fonteles Duarte fez análise sobre o surgimento e a expansão do fenômeno conhecido como “machosfera”, que reúne comunidades virtuais dedicadas à exaltação de masculinidades violentas e à propagação de discursos de ódio. “É necessário compreendermos o que alguns pesquisadores da área chamam de ‘machosfera’, entender como funciona e quais caminhos podemos adotar para tentar melhorar esse cenário ou combater essas redes de ódio, que não apenas estimulam a violência contra as mulheres e a violência nas escolas, mas também ameaçam os regimes democráticos. Observo que muitos jovens recrutados por grupos masculinistas radicais acabam participando de movimentos que buscam desacreditar a democracia e a ciência. Então, esse é um assunto que interessa a todos nós, pois diz respeito à convivência social, à segurança e à preservação dos valores.”
O juiz Wildemberg Ferreira de Sousa, titular da 1ª Vara de Sucessões de Fortaleza, corregedor Auxiliar da Corregedoria-Geral de Justiça, coordenador da Comissão Permanente de Acessibilidade e Inclusão do TJCE e membro da Comissão de Heteroidentificação do Tribunal, participou do evento e fez um relato de experiência, colocando em evidência sua preocupação como juiz e como pai de crianças. “Na posição em que eu estou, de magistrado, de membro de um Poder, fico me questionando se eu estou utilizando todos os instrumentos para interferir nas redes sociais, no sentido de transformar e evitar essas práticas irresponsáveis que têm causado muitos prejuízos para todos nós. A questão da masculinidade é muito complexa, e isso faz com que nós, adultos, estejamos discutindo, refletindo sobre esse tema. Imagina criança e adolescente, seres construindo sua formação”.
Já Rogério Maia, jornalista da Ascom do TJCE e doutorando da Universidade Federal do Ceará (UFC), tratou sobre questões voltadas às práticas autolesivas de risco na internet e que atingem diretamente crianças e adolescentes. “De fato, a internet como um todo não foi pensada para crianças e adolescentes, mas elas e eles estão neste espaço. A questão é como podemos atuar para minimizar esses riscos entendendo esse público como seres de direitos, mas também fornecendo ações de proteção e bem-estar, formações específicas, letramento digital e regulação das plataformas, diante desse contexto de riscos e possíveis danos”, ressaltou.
PRÓXIMA AÇÃO
A próxima ação será em alusão ao Mês da Consciência Negra, com o tema: “Negritude e Masculinidades: Reflexões sobre raça, gênero e equidade”, no dia 19 de novembro, às 8h30, na Escola Superior da Magistratura Ceará (Esmec).



