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Médico e mais seis presos em operação da Polícia

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11.11.2010 Fortaleza
Operação desarticula grupo clandestino que realizava aborto. O médico e ex-prefeito de Maracanaú Dionísio Broxado Lapa Filho e outros seis funcionários da clínica foram presos ontem. A Operação Exterminador do Futuro investigava o grupo desde abril
O médico, ex-prefeito de Maracanaú e ex-deputado estadual Dionísio Broxado Lapa Filho foi um dos alvos da Operação Exterminador do Futuro, realizada pelo Ministério Público, com apoio da Polícia Civil. Ontem de manhã, ele e outras seis pessoas foram presas acusadas da prática de aborto em Fortaleza e Maracanaú. O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado trabalha no caso desde abril, a partir de uma representação do
Movimento Internacional Pela Vida (Movida). Cerca de 10 mulheres que se submeteram a procedimento abortivo pelo grupo foram identificadas e devem ser interrogadas a partir de hoje.
Durante os sete meses de investigação, foram captadas escutas telefônicas e imagens que comprovam a ação do grupo na clínica Dionísio Lapa, no Bairro de Fátima, e no Hospital Associação Beneficente e Médica de Pajuçara (Abemp), em Maracanaú. A partir do trabalho de inteligência, foi descoberto que cerca de cinco mulheres eram atendidas por dia na clínica clandestina. O procedimento abortivo custava R$ 2 mil e durava menos de 20 minutos. O perfil das pacientes era jovens da classe média-alta. Segundo os promotores, a estrutura da clínica abortiva era precária. Muitos equipamentos, como estufas, estavam enferrujados. O Ministério Público não disponibilizou cópia das provas para a imprensa.
De acordo com o promotor Marcos William Leite, o médico Dionísio Lapa usava várias estratégias para dificultar qualquer tipo de investigação. A clínica costumava funcionar a partir das 18 horas e seguia pela madrugada – quando não é permitido por lei o cumprimento de mandados de busca. No mês passado, o médico também evitou frequentar a clínica e o hospital, e chegou a levar parte do material utilizado nos procedimentos abortivos para a sua residência. ?Finalmente conseguimos provas contundentes de uma ação criminosa que já era pública e notória para boa parte da sociedade?.
Foram expedidos mandados de busca e apreensão nas duas unidades de saúde e na casa do médico. Na manhã de ontem, a Operação Extermínio do Futuro recolheu fichas e materiais cirúrgicos ? alguns ainda com sangue.
Dos seis mandados de prisão preventiva, apenas um não foi cumprido. A auxiliar de enfermagem Elizabeth de Lima está de licença do trabalho e fora do Estado. A secretária Adriana Fernandes, o porteiro Ricardo Henrique de Lima Demétrio, a atendente Antônia Deuziana Mota Teixeira e o segurança Francisco José de Lima foram ouvidos na sede da Procuradoria Geral de Justiça do Ceará e seguiram para a Delegacia de Capturas e Presídio Feminino. Somente o segurança e motorista do médico, José Ilton do Carmo, foi preso em flagrante pelo porte ilegal de munição de calibres 38 e 12. Ele prestou depoimento no 34º Distrito Policial. O médico Dionísio Lapa foi levado ao Batalhão de Choque da Polícia Militar do Ceará.
Quem
ENTENDA A NOTÍCIA
Dionísio Lapa é ginecologista e obstetra, ex-deputado estadual e ex-prefeito de Maracanaú. Ele é acusado de realizar abortos clandestinos há mais de 30 anos na cidade. Ele foi um dos presos na Operação Exterminador do Futuro.
OPERAÇÃO
Segundo a promotora auxiliar do Júri Joseana França, os mandados de prisão serão encaminhados à Justiça e oferecido a denuncia que dá indicio para ser iniciado o procedimento judicial.
Sobre a Operação Exterminador do Futuro, o promotor Marcos William disse que as investigações vão continuar.
O aborto é considerado crime no Brasil, salvo nos casos em que haja risco de morte para a gestante ou quando feto foi gerado em decorrência de um estupro. O Código Penal prevê pena de 1 a 3 anos de prisão para a gestante, e de 1 a 4 anos para o médico ou outra pessoa que realize o aborto.
Viviane Gonçalves
vivi@opovo.com.br