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Canoa Quebrada abandonada

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08.11.2010 cidade
Ministério Público entrou com Ação para fechar os pontos alegando risco de desmoronamento
Aracati – “SOS galáxia, a lua e a estrela se apagaram. Socorro… Urgente”; “Canoa Quebrada está de luto”. Essas frases feitas pelos barraqueiros traduzem o que foi visto, ontem, na Praia de Canoa Quebrada, em Aracati, litoral leste do Estado. Barraqueiros e suas famílias desolados, um cenário sem quase nenhum visitante.
Foram assim os três primeiros dias depois do fechamento das 22 barracas (último dia 5) da região. Os estabelecimentos receberam notificação sobre a decisão da juíza Maria do Socorro Montezuma Bulcão, da 1ª Vara de Aracati, que acatou o pedido do Ministério Público Estadual para fechar os locais.
Alguns visitantes estavam sentados na areia da praia, outros se protegiam do sol embaixo dos estabelecimentos de portas fechadas, tristes com a situação, principalmente para quem estava no local pela primeira vez. Foi o caso da dona-de-casa Bernadete Silva de Menezes, 26. De Fortaleza, ela foi para Canoa Quebrada numa excursão e não sabia o que estava acontecendo. “Foi uma surpresa ruim. Não sabíamos que estavam fechadas. Agora, acho que vamos para Majorlândia”.
As 600 pessoas que sobrevivem diretamente da movimentação na praia estão com medo de não poderem mais trabalhar. De acordo com o dono de barraca e presidente da Associação dos Empreendedores de Canoa Quebrada (Asdecq), Luís Nogueira, o movimento diminuiu cerca de 90%.
O presidente do Conselho Comunitário de Canoa Quebrada, Francisco Edvando Ferreira, informou que os ônibus chamados “bate-e-volta” – das empresas de turismo que chegam pela manhã, levam os turistas para barracas na praia e passeios e deixam o local à tarde – não estão mais indo para lá.
“Não queremos acabar com o emprego de ninguém, mas que o trabalho seja regrado por condições de proteção ao meio ambiente, das pessoas e por sustentabilidade”, afirmou o promotor de Aracati, Alexandre de Oliveira Alcântara, que entrou com a Ação. Segundo ele, fundamentada em provas do Corpo de Bombeiros e da Defesa Civil. “A qualquer momento, pode ocorrer um desmoronamento. Não há condições de as barracas permanecerem ali”. O promotor salientou que a conversa com Estado e Município, para solucionar o problema, não teve resultado. “Ninguém fez nada, ninguém assume a responsabilidade. E se acontece uma tragédia”?
Os barraqueiros concordam mudar de local, se necessário. Porém, precisam de tempo. “Até existe uma área, mas é particular, ainda a ser desapropriada. Não há como fazer em 30 dias”, disse Luís Nogueira.
TURISTAS EM FALTA
Sem clientela, grupo de bugueiros amarga prejuízos
O turismo de Canoa Quebrada gerou uma rede de empregos. O fechamento das barracas afetou não só os donos delas, mas também as atividades que giram em torno, como a dos bugueiros. Existem 65 veículos que fazem passeios com os turistas. Ontem, os motoristas estão desanimados e sentados à espera de alguém. “Desde sexta-feira, não consigo ter renda. Estamos parados”, disse José Luciano Gerônimo da Silva. Ele tem 53 anos e há 15 realiza passeios em Canoa Quebrada.
Cada bugue, de acordo com os motoristas, faz três passeios por dia. Ao todo, diariamente, são cerca de 200. Mas, nesse fim-de-semana, a situação foi muito difícil. “Se não tivesse acontecido isso, hoje de manhã (domingo), nós já teríamos feito mais de 50 passeios. As pessoas estão com medo de vir. Os ônibus não estão chegando”, disse o bugueiro Pedro Arnaldo Cavalcante, que trabalha na atividade há 20 anos.
“Isso nunca aconteceu, estão acabando com o nosso sustento”, disse outro bugueiro, Francisco Lima da Rocha, que trabalha no ramo há oito anos.
Segundo eles, até o posto de gasolina próximo dali está sendo prejudicado. “A gente abastece lá, se não rodamos, não damos lucro para eles”, comentou Francisco Lima. “O problema aconteceu e, até agora, ninguém apresentou uma solução. Queremos que isso se resolva logo”, disse Cavalcante.
Anualmente, de acordo com o presidente do Conselho Comunitário de Canoa Quebrada, Francisco Edvando Ferreira, Canoa Quebrada recebe de 180 a 200 mil turistas. “A notícia se espalhou por todo canto. Então, os visitantes estão com medo de vir porque não sabem o que vão encontrar”, comentou. “Queríamos que tivesse sido feito um acordo antes do fechamento, mas isso não aconteceu”.
Na manhã desse domingo, a Broadway, principal rua de Canoa Quebrada, onde ficam lojas e restaurantes, também estava quase sem movimento.
EVELANE BARROS
SUBEDITORA DE REGIONAL