Com carinho e coragem: TJCE abre Seminário Internacional com vozes que celebram a vida e enfrentam a violência contra pessoa idosa
- 1299 Visualizações
- 06-06-2025
“Respeitemos os idosos / Os tratemos com carinho; / Na caminhada da vida / Nos abriram o caminho. / Não é justo, na jornada / Quem nos abriu a estrada / Ter que caminhar sozinho.”
Com esses versos do cordelista cearense Tião Simpatia, teve início, na manhã desta quinta-feira (05/06), o III Seminário Internacional de Prevenção à Violência contra a Pessoa Idosa, promovido pelo Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio da Comissão de Defesa e Proteção da Pessoa Idosa, em alusão ao Junho Violeta.
Mais do que um evento, o seminário é um encontro de vidas, histórias, saberes e afetos. É onde a experiência se transforma em voz ativa, e a escuta se converte em cuidado. Em cada canto do espaço, havia sorrisos que carregam décadas e corações que seguem batendo com vontade de viver.
Como o de Marina Soares, de 69 anos, que participou do evento pela primeira vez. “É a primeira vez que participo de algo assim, voltado pra gente. Muito bom! Faço natação, atividade física com os Bombeiros e no colégio da Polícia Militar. Tenho dois filhos maravilhosos. Levo a vida com muita alegria. Acho que cheguei até aqui muito feliz.”
Ao seu lado, Leda Maria, técnica de enfermagem de 71 anos, não escondia o entusiasmo: “Me sinto com 30! Ando de bicicleta, dirijo, faço atividade física. Amo viver. Tenho meu marido, que vai fazer 80 anos, e essa alegria é minha saúde. Achei maravilhoso esse momento aqui. É importante discutir sobre violência, porque muitos idosos passam por isso e precisamos entender para ajudar e evitar. O amor salva a gente.”
A manhã foi marcada por momentos simbólicos e de construção coletiva. Durante a abertura oficial, foi assinado um acordo de cooperação entre o TJCE e a Universidade de Fortaleza (Unifor) para a criação de um observatório voltado à temática da pessoa idosa, conforme a Resolução nº 520/2023 do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
A desembargadora Lira Ramos de Oliveira, presidente da Comissão de Defesa e Proteção da Pessoa Idosa do TJCE, reforçou a importância do evento. “Na conjuntura atual, o seminário nos convida a refletir sobre a pessoa idosa numa perspectiva do desenvolvimento sustentável, da Agenda 2030, em especial a ODS 3, de saúde e bem-estar, que visa garantir uma vida saudável e promover o bem-estar para todas as pessoas, em todas as idades.”
O presidente do TJCE, desembargador Heráclito Vieira de Souza Neto, também destacou o protagonismo do Judiciário cearense em ações que vão além do julgamento de processos. “O Tribunal vem cada vez mais atuando em frentes que fortalecem os direitos humanos, como é o caso da proteção à pessoa idosa. É nosso compromisso enfrentar todas as formas de violência – física, patrimonial, psicológica – e garantir dignidade.”
O reitor da Unifor, professor Randall Pompeu, falou sobre a responsabilidade das instituições de ensino no combate às violências estruturais. “A violência contra a pessoa idosa não é um fenômeno isolado, mas estrutural, exigindo políticas públicas urgentes, ações de conscientização, redes de proteção e responsabilização efetiva dos agressores.”

PAINÉIS E REFLEXÕES TRANSFORMADORAS
Ao longo do dia, o seminário promoveu importantes reflexões com especialistas nacionais e internacionais. A palestra de abertura, conduzida pelo professor Eduardo Duque, da Universidade do Minho (Portugal), abordou a importância da intergeracionalidade na construção de uma sociedade mais justa.
Na sequência, dois painéis debateram o papel das universidades na inclusão de pessoas idosas, a importância de políticas públicas reparadoras e o fortalecimento da cidadania. Foram apresentadas iniciativas como a cartilha “Curatela e Tomada de Decisão Apoiada: Cidadania sem Barreiras”, construída pelo Laboratório de Inovação do TJCE, em parceria com o TRE-CE e a Defensoria Pública.
Representantes da OAB-CE, Prefeitura de Fortaleza, Governo do Estado e do IBDFAM-CE também integraram os debates, que buscaram, em conjunto, caminhos para a prevenção à violência e a promoção de uma sociedade mais acolhedora.
VOZES QUE TOCAM E PROVOCAM MUDANÇAS
Durante a tarde, a programação seguiu com momentos emocionantes. A médica psiquiatra Francinete Giffoni trouxe uma abordagem sensível sobre o envelhecimento saudável, destacando que “buscar o sentido da vida é também uma forma de prevenir a violência psicológica”. Ela lembrou que os idosos carregam valores estruturantes, que precisam ser reconhecidos e valorizados.
O desembargador Francisco José Gomes, vice-presidente do TRT-CE, trouxe uma fala contundente sobre o etarismo no mercado de trabalho. “Não se pode tratar como descartável quem tem tanto a ensinar. O preconceito baseado na idade ainda impede contratações, dificulta promoções e pressiona aposentadorias.”
O advogado e professor Aluísio Gurgel de Amaral Neto abordou a exclusão digital e a condição da pessoa idosa como imigrante digital. “Não é razoável exigir que quem não cresceu com tecnologia identifique riscos como golpes virtuais ou deepfakes. É urgente garantir políticas públicas de acessibilidade tecnológica e inclusão digital para esse público.”
Outro momento de destaque foi a palestra do advogado Dante Jorge, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa de Fortaleza. Ele lembrou que a Constituição de 1988 foi a primeira da história do Brasil a reconhecer a pessoa idosa como sujeito de direitos, merecedora de atenção especial do Estado e da sociedade, conforme o Artigo 230. “Não há no horizonte a perspectiva de envelhecimento digno para a sociedade brasileira sem a consolidação dos conselhos de direitos da pessoa idosa como órgãos de participação popular e de garantia de direitos sociais”, afirmou.
Ele destacou ainda o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei Federal 10.741/2003) como a maior conquista na luta pelos direitos desse público, garantindo acesso amplo, inclusivo e com a previsão de atribuições legais aos conselhos de direitos.
No painel “Educação Intergeracional: Construindo Pontes entre Gerações”, a professora Elizabeth Távora emocionou ao relatar experiências de sucesso com alunos do projeto “A Arte do Encontro”. Também participaram as professoras Ana Cláudia Lima de Assis, do CEJA Neudson Braga, e Elizângela André, que trouxeram reflexões sobre a educação como direito e ferramenta de empoderamento na velhice. A mesa foi presidida por Isabelle Adjane Cipriano Braga, advogada e estagiária de pós-graduação do TJCE.
Fechando a tarde, o painel “A Pessoa Idosa na Sociedade da Informação: Da Inclusão Social à Inclusão Digital” foi uma aula de sensibilidade e inovação. O professor Bento Duarte da Silva, da Universidade do Minho, falou sobre o letramento digital da pessoa idosa nos contextos português e brasileiro. Cristina Luz, coordenadora do projeto Chá Tecnológico, destacou iniciativas práticas de inclusão. Já o juiz Ricardo Alexandre da Silva Costa trouxe uma reflexão provocativa: “Sociedade da informação para quem?”, ao abordar a invisibilidade digital dos idosos. A mesa foi presidida por Gabriel de Andrade Mesquita, assessor de desembargador do TJCE e especialista em IA aplicada ao Direito.
ENCERRAMENTO COM ARTE E EMOÇÃO
Para encerrar o dia com beleza e leveza, o Coral do IFCE realizou uma apresentação musical emocionante. O repertório incluiu “Maracatu Pulsante”, “Fanranfanfan de Lauro Maia” e “Magoada”, encantando o público e celebrando, por meio da arte, a potência da longevidade.
PARTICIPE TAMBÉM
O seminário continua nesta sexta-feira (06/06), com novas palestras, apresentações culturais e trocas de experiências. A proposta é construir pontes entre gerações e fortalecer redes de proteção.
O evento conta com a participação de representantes do Brasil, Espanha e Portugal, além de universidades, órgãos públicos, conselhos e movimentos sociais. Um verdadeiro mosaico de saberes e vozes que defendem o envelhecer com dignidade.
Porque, como lembrou a sorridente dona Leda, com seus 71 anos de coragem e alegria: “É o amor que salva a gente.” E é com amor que o TJCE reafirma seu compromisso com a vida, a escuta e o respeito à pessoa idosa.




