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Roda de conversa no Judiciário cearense traz reflexões sobre identidade e equidade racial

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“O sofrimento não pode ser uma régua nossa, a desgraça não pode ser nosso único discurso e a tragédia não pode ser o nosso púlpito.” Foi como Preto Zezé, uma das maiores lideranças das favelas brasileiras, falou sobre a necessidade de o homem preto se conhecer e se identificar. A declaração foi feita durante uma roda de conversa sobre negritude e masculinidades, realizada na Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará (Esmec) nesta quarta-feira (19/11).

Na véspera do Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio do Comitê Gestor de Equidade de Gênero, da Comissão de Políticas Judiciárias pela Equidade Racial (CPJER) e da Coordenadoria de Cultura e Engajamento (SGP), promoveu o evento voltado para reflexões sobre raça, gênero e equidade.

“A identidade é construída a partir da diferença. É o olhar do outro que faz você entender quem você é. Nem sempre acontece da maneira mais tranquila, o outro às vezes quer dizer que você é uma coisa que você não é”, explicou Andy Monroy, caboverdiano que chegou ao Brasil aos 18 anos para fazer um intercâmbio estudantil. Ao chegar em Fortaleza, se entendeu como um menino negro. “Ver as pessoas terem comportamentos de medo ao meu redor, principalmente, foi o que mais presenciei. E foi a partir dessa experiência que eu entendi que ser negro significava algo.”

O debate foi enriquecido ainda pelas falas da servidora Kássia Lanelly, membra do Comitê Gestor de Equidade de Gênero. “Um professor meu, sociólogo e doutor em história, falou algo que achei muito interessante: ‘nós homens, e homens negros, somos conclamados a nos repensar através das mulheres e das nossas filhas. As mulheres e as mulheres negras nos conclamam a fazer esse questionamento.’ É muito importante a presença desses homens nas nossas vidas e a gente observa como a estrutura do patriarcado e do racismo prejudica esses homens, interfere em muitas camadas para a formação dessa masculinidade”, pontuou.

 

EQUIDADE

 

Na ocasião, a desembargadora Ângela Teresa Gondim Carneiro Chaves lembrou que o Comitê de Equidade, do qual é coordenadora, completa um ano neste mês. “Nada melhor do que celebrar nas vésperas do Dia da Consciência Negra, continuando uma trilha de aprendizado para o público masculino. A ideia de um treinamento para homens nasceu na Esmec, pois trabalhar equidade de gênero é também trazer o público masculino para essa pauta. Equidade de gênero não é algo só de mulheres, é de todos.”

 

Imagem do palco com quatro pessoas sentadas durante uma palestra
“….a desgraça não pode ser nosso único discurso e a tragédia não pode ser o nosso púlpito”, afirmou Preto Zezé durante sua fala

 

A diretora da Esmec, desembargadora Joriza Magalhães Pinheiro, destacou que a Escola está sempre aberta a receber o diálogo. “A ideia de incluir as masculinidades e o homem como parceiro na luta pela equidade de gênero, somada à equidade de raça, nos faz perceber que a vida humana é atravessada por múltiplas dimensões. Precisamos compreender todas as possíveis formas de discriminação que se interligam. Aproveito a oportunidade para dizer que a Esmec está aberta não apenas para quem se inscreve, mas também para promover todo e qualquer aprendizado e trabalho que nos ajude a ser melhores seres humanos.”

 

APRESENTAÇÃO CULTURAL

 

O encontro, que contou com a presença do presidente do TJCE, desembargador Heráclito Vieira de Sousa Neto, teve como mediador o gestor do Núcleo de Cultura e Engajamento da SGP, Marcelo Maia, foi feita apresentação cultural dos Batuqueiros da Liberdade, que realizam reabilitação psicossocial dos seus membros. O grupo de percussão é ligado a Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) em Fortaleza, e utiliza a arte e a cultura para auxiliar no tratamento de pessoas com dependência química.

 

Imagem com os participantes no encerramento do evento
Representantes de várias entidades compareceram ao evento na Esmec, além de gestoras(es) do Tribunal que atuam com a temática

 

Cofundador da Central Única das Favelas (CUFA), Preto Zezé encerrou sua participação falando sobre seu papel de difundir o tema em todos os ambientes. “Hoje eu estou neste lugar, tentando fazer com que o Brasil se olhe no espelho. Precisamos formar essa lupa e deixar de aceitar ou naturalizar o Brasil que fala muito de diversidade, mas não tem essa diversidade no futebol, na gastronomia, em espaços de poder. Temos que ocupar esses espaços de poder e de visibilidade.”

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