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Oficina de Pais e Filhos: quando o Judiciário escuta com o coração e possibilita recomeços

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Na Comarca de São Benedito, na Serra da Ibiapaba, foi realizada a Oficina de Pais e Filhos na sexta-feira (27/06). Um encontro que vai além das paredes do Fórum. Uma pausa necessária no litígio para fazer brotar, entre dores e aprendizados, a chance de uma nova forma de cuidar.

No Salão do Júri, não estavam réus ou acusadores. Estavam pais e mães. Gente de verdade. Com feridas abertas, preocupações nas mãos e filhos nos pensamentos. Pessoas como Maria Tatiane de Sousa Barbosa, mãe de sete filhos, que encontrou no momento uma bússola para seguir com mais serenidade.

“A gente aprende a ver não só por um lado, mas também pelo outro. É importante entender o lado do outro e saber lidar com as situações, porque, mesmo quando a vida está complicada, a gente precisa saber conversar…”, compartilhou Maria Tatiane, com a voz embargada pela verdade de quem viveu e sentiu cada palavra dita.

Solange de Farias Lima, mãe solo, também se emocionou com os aprendizados e reflexões que viveu. “O respeito é a base de uma boa relação, principalmente quando envolve crianças. Elas não têm culpa dos erros dos pais. Elas só querem carinho, atenção e proteção”, disse.

“O momento mais impactante foi o vídeo. Quando a menina deu um depoimento chorando e falou da situação que vivia. Aquilo me atravessou. Porque a dor de uma criança, mesmo quando não é a nossa, dói em qualquer mãe.”

Essas palavras não vieram de especialistas. Vieram de quem vive a realidade de conflitos familiares, mas ainda acredita na transformação. E é justamente para isso que a Oficina de Pais e Filhos foi criada: oferecer caminhos onde antes só havia becos. Criar pontes onde antes havia abismos.

A juíza Larissa Affonso Mayer, coordenadora do Centros Judiciários de Solução de Conflitos (Cejusc) de São Benedito, explica que a proposta é construir espaços de escuta, empatia e cuidado. “Uma família feliz é o sonho de muitas pessoas, mas pode ser que essa relação, por algum motivo, não siga o roteiro que sonhamos. Às vezes, o vínculo conjugal se desfaz e desentendimentos entre os membros da família surgem. É nesse momento delicado que se torna necessário desenvolver ainda mais a escuta e a responsabilidade para preservar o que é mais precioso: o bem-estar de mães e pais com seus filhos.”

A magistrada reforça que a Oficina não é apenas um programa informativo, mas um gesto de acolhimento e um compromisso com o futuro. “É um momento especialmente criado para acolher famílias em processo de separação. Cada história é recebida com respeito e empatia, com o objetivo de renovar os vínculos em meio às mudanças. Participar é escolher o caminho do cuidado, do diálogo e da reconstrução. É entender que, mesmo após o fim da relação conjugal, é possível manter uma co-parentalidade saudável, respeitosa e colaborativa.”

Para a juíza Jovina d’Avila Bordoni, coordenadora do Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos (Nupemec), essa é uma construção coletiva e necessária. “A Oficina de Pais realizada na Comarca de São Benedito fortalece a cultura do diálogo e faz parte da política de Gestão de Conflitos do Tribunal de Justiça do Ceará. Por meio dessa ação, é construído um espaço de reflexão, empatia e orientação, que ajuda aos participantes na construção de uma co-parentalidade saudável e colaborativa.”

A oficina é gratuita, presencial e está disponível tanto por encaminhamento judicial quanto em edições abertas ao público. Com palestras, vídeos, dinâmicas e rodas de conversa, a ação ressignifica o papel do Judiciário: não apenas como quem decide, mas como quem acolhe, orienta e transforma.

No fim da manhã, quando os participantes deixavam o Fórum, muitos já não eram os mesmos. Saíram dali com o peito mais leve, com as palavras mais claras, com as dores mais entendidas. E, principalmente, com a certeza de que o amor pelos filhos não precisa se perder quando o casamento chega ao fim.

 

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