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Editorial – Gestos de solidariedade

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03.07.2010 opinião
As duas atitudes merecem ser exaltadas principalmente em uma sociedade na qual a mesquinhez é tratada às vezes como virtude dos mais espertos
O cearense, pela sua própria condição de vida, de um povo sofrido e carente de muitas necessidades, sempre foi tido como generoso e solidário para com o próximo. Disso não há dúvida, como já pôde ser atestado em várias das campanhas desenvolvidas aqui mesmo pelo O POVO. Porém, nunca é demais ressaltar esses gestos para que continuem sendo praticados e sirvam de exemplo as futuras iniciativas.
Na semana passada dois fatos simbólicos marcaram mais uma vez esse espírito de solidariedade. Um deles refere-se à ajuda aos desabrigados das enchentes nos estados de Pernambuco e Alagoas. Em apenas uma semana da campanha de arrecadação de donativos, para se ter ideia, quase duas toneladas de alimentos não-perecíveis foram entregues à Guarda Municipal e à Defesa Civil de Fortaleza.
O mais gratificante desse gesto é que as doações são feitas, de acordo com depoimentos de responsáveis pelas arrecadações, como se destinadas a pessoas já conhecidas. Um detalhe também revelado é que as empresas doam muito, mas é a população, cada um com seu tanto, que mais colabora.
Outra iniciativa que tem comovido a todos é a luta da diarista que encontrou no último sábado uma criança jogada em um terreno baldio no bairro Granja Portugal. Desde então, ela tem empreendido uma maratona para ficar com a guarda da criança como se tivesse nascido dela. Mesmo sabendo que a chance de ficar com o bebê é pequena, tendo em vista que ela não se encontra na lista do Cadastro Nacional de Adoção, aquela senhora de 35 anos não tem medido esforços no sentido de mostrar que pode dar o amor que tanto a criança necessita. Enquanto aguarda uma decisão oficial da Justiça sobre o pedido de guarda, a diarista não consegue deixar de visitar a criança um dia sequer no hospital Nossa Senhora da Conceição, onde encontra-se na UTI Neonatal.
Os dois gestos, portanto, merecem ser exaltados e incentivados, principalmente em uma sociedade na qual a mesquinhez é tratada às vezes como virtude dos mais espertos na arte de se sobrepor ao próximo. A imprensa, que não raro é alvo de ataques por se pautar mais pela desgraça humana do que pelas boas notícias, deve abrir espaço para esses gestos que, aparentemente simples, produzem efeitos duradouros.
A ajuda aos desabrigados pelas enchentes em Pernambuco e Alagoas e a intenção da diarista em assumir uma criança que encontrou por acaso, deviam até, mais do que ser publicizadas à exaustão, ser utilizadas como reflexão, principalmente por aqueles que poderiam fazer muito pelo próximo por meio de pequenas atitudes, mas se eximem por comodismo ou outro motivo qualquer que impede essas atitudes.