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Descontos acima de 15% assustam pequenas farmácias

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Economia 20.01.2010
A busca pelo maior desconto faz o balconista Tiago Mendes pesquisar em várias farmácias antes de decidir onde vai comprar seus medicamentos. No entanto, além do preço em si, ele analisa aspectos como a distância de sua residência.
“Se a farmácia com descontos for muito longe, eu prefiro uma pertinho da minha casa. Se eu for pegar ônibus, sai mais caro“, destacou.
Como Tiago, muitos ainda se dividem entre a possibilidade de se beneficiar com descontos de até 50% e a comodidade de uma farmácia menor perto de casa.
A polêmica foi gerada a partir da decisão do desembargador José Mario dos Martins Coelho, do Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) que na semana passada determinou que as farmácias poderiam conceder descontos desde que “não demonstrada a intenção de prejudicar a livre concorrência“. Os percentuais chegam a 50% em algumas redes maiores.
Entre os representantes de pequenas farmácias, o clima é de desânimo. “As grandes redes vão dominar o mercado e as pequenas vão desaparecer“, arriscou o proprietário da farmácia Nossa Senhora das Graças, Júlio Vale.
Segundo Vale, com a concorrência desleal, muitas farmácias em especial no centro da cidade vão fechar as portas. As que sobreviverem, de acordo com ele, sofrerão com a queda nas vendas e terão que demitir funcionários.
Como estratégia para sobreviver e manter os clientes, Vale aposta na aproximação com o público. “A gente trabalha com fiado, anotando na caderneta. É bem popular mesmo“, destacou.
O proprietário da drogaria Farnambi, Marcone Alcoforado, por sua vez, criticou os descontos aplicados por grandes redes de farmácias alegando que as pequenas não conseguem alcançá-los. “O problema é que os preços são tabelados e você não dar senão pequenos descontos“, apontou.
Segundo Marcone, as redes de farmácia estão incorrendo em uma prática de dumping, vendendo medicamentos por preços inferiores ao mercado para eliminar a concorrência. “De um modo geral para efeito de concorrência é muito ruim“, apontou lembrando que em 2004 quando a concorrência tinha descontos de até 50%, as vendas caíram e foram dispensadas quatro pessoas.
Não-medicamentos
Em torno das farmácias ainda há outra polêmica: a venda de não-medicamentos nas farmácias. Em algumas são encontrados picolés, doces e biscoitos. Em outras, existem pequenas lojas de conveniência. “A gente tem interesse em vender medicamentos. A concorrência é que faz com que tenhamos outros produtos“, explicou Marcone Alcoforado.
POLÊMICA JUDICIAL
> A polêmica e a batalha judicial em relação torno dos descontos nas farmácias tiveram início em 2004, com a chegada da Drogaria São Paulo em Fortaleza. A farmácia começou a oferecer descontos de até 50% sobre a alegação que beneficiam o consumidor.
> O Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Ceará (Sincofarma) defende um limite máximo para os descontos de até 15%, alegando que percentuais maiores podem quebrar farmácias locais.
> A resolução nº 44, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) veda a venda de produtos de conveniência nas farmácias do País. No Ceará, no entanto, as drogarias operam respaldadas na Lei Estadual nº 14.588, que permite a comercialização dos produtos nos estabelecimentos.