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Agressividade de pacientes preocupa

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14.03.2011 Cidade
No último mês, um homem foi ferido por paciente. No hospital, aumenta tempo de espera por leitos
Agressões físicas e verbais têm deixado apreensivos profissionais que atuam no Hospital de Saúde Mental de Messejana (HSMM). Tratando diariamente de 180 pacientes com transtornos mentais, alguns deles em situação de dependência química, funcionários da unidade de saúde são por vezes ameaçados e sentem a ausência de seguranças no hospital, que atua no limite de sua capacidade.
De acordo com o coordenador geral do Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público do Ceará (Mova-se), João Batista, o sindicato recebia, há meses, denúncias pontuais sobre violência no interior do hospital. O exemplo mais incisivo da situação, contudo, ocorreu na segunda quinzena do último mês. Conforme João Batista, um dos pacientes, após irritar-se com o médicos e enfermeiras, ameaçou-os com um objeto cortante.
Temendo pela segurança da equipe de saúde, um funcionário terceirizado que cuidava da limpeza do local, reagiu contra o homem. Os dois se confrontaram e o zelador acabou ferido, precisando ser socorrido por seguranças que se encontravam na parte externa do HSMM e posteriormente encaminhado ao Instituto Doutor José Frota.
Conforme o coordenador, a vítima está em bom estado de saúde, mas teme que o agressor, que se encontra na Casa de Custódia, retorne ao hospital. Após tomar conhecimento do ocorrido, João Batista afirma ter feito uma visita ao hospital, através da qual, informa, constatou a veracidade das denúncias. Com o incidente, ganhou mais força a apreensão dos funcionários. “Dá medo você ter que lidar com um cara que tem um homicídio nas costas”, comenta um dos empregados, que preferiu não se identificar.
Ele diz nunca ter sido agredido por pacientes, mas afirma observar agressões verbais com frequência. “Nunca fizeram nada comigo porque eu sei conversar, sei o jeito de falar com eles. Mas o pessoal aqui sempre tem receio”, frisa. Conforme outro funcionário, a falta de seguranças no interior do prédio é mais um fator que gera preocupação.
Na última semana, um desses pacientes ameaçou jogar álcool e atear fogo numa auxiliar de enfermagem que se negou a aplicar aerossol sem prescrição médica. Na semana passada, o Mova-se enviou ofício à procuradora estadual da Saúde, Isabel Porto, informando sobre dois casos de agressão de custodiados a trabalhadores e pedindo providencias.
Segundo o diretor do HSMM, Marcelo Teófilo, a situação do hospital “não está fora da normalidade”. O diretor confirma a agressão ocorrida contra o zelador, mas refere-se ao ocorrido como incidente passível de ocorrer em uma unidade que trabalha com portadores de transtornos mentais.
Prejudicar
A respeito da falta de seguranças ou policiais no interior do hospital, Marcelo afirma que a presença desses profissionais no local poderia prejudicar o tratamento dos pacientes, já que alguns destes poderiam se sentir intimidados ou perseguidos. “E também há um risco. Você imagina se, durante um descuido, um paciente toma a arma ou o equipamento de um policial”, indaga.
O diretor destaca ainda que, das 180 pessoas atendidas, uma média de 5 a 15 são compulsórios, ou seja, estão no local obrigados por decisão judicial. Os demais, salienta, são pacientes voluntários, enquanto os outros 50% são involuntários – aqueles que se encontram incapazes de responder por suas ações.
FILA
A espera por leitos pode demorar até cinco dias
Conforme Marcelo Teófilo, O HSMM tem atuado em sua capacidade máxima, ao mesmo tempo em que se acumula uma fila de espera por leitos. O fato, diz, deve-se principalmente ao descredenciamento de 103 leitos da Clínica de Saúde Mental Dr. Suliano, no último mês.
Conforme o diretor, a espera por leitos, que antes durava de 24 a 48 horas, agora pode demorar de três a cinco dias. O tempo médio de estada das pessoas com transtornos mentais é de 27 dias. O problema se agrava, aponta, por conta da falta de agilidade do Judiciário em providenciar a retirada, do hospital, de pacientes compulsórios que já receberam alta médica, mas que aguardam a transferência para outro espaço.
Por conta desse fato, leitos acabam sendo ocupados por “alguns dias” além do necessário, ampliando a espera daqueles que aguardam por ajuda.
O diretor afirma ainda que há casos em que os pacientes acabam saltando o muro do hospital e escapando. Quando isso ocorre, é registrada alta, por motivo de fuga. “Se o paciente escapa e retorna, recebe alta. Se ele está apto a subir o muro e ir pra fora, deve estar apto a sair do hospital também”, diz.
Frisa que o hospital não prevê reformas ou reforços na segurança. “Nós somos um hospital, não somos um equipamento prisional,” ressalta.
JOÃO MOURA
REPÓRTER