Estudantes de Juazeiro do Norte destacam projeto do Judiciário que leva cultura de paz para ambiente escolar
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- 29-09-2025
Aos 14 anos, Estela Lohany França Rodrigues já aprendeu que o diálogo é a melhor forma de superar desentendimentos. Aluna do 9º ano da Escola Municipal Dona Odorina Sampaio, em Juazeiro do Norte, ela está entre estudantes e educadores participantes de capacitações promovidas pelo Centro Judiciário Regional de Solução de Conflitos e Cidadania (Cejusc) do Cariri, por meio do projeto “Escola Modelo Cultura de Paz”, que há dois anos trabalha a pacificação social no ambiente escolar.
“Esse projeto me mostrou que discussões podem ser resolvidas de uma maneira tão simples, apenas com uma conversa, com uma compreensão, apenas em ouvir o que a outra pessoa sentiu diante daquele conflito já resolve muita coisa. E eu tenho aprendido bastante com isso”, garante Estela Lohany.
A aluna integra a Comissão Permanente de Resolução de Conflitos da Escola Municipal e conta que, a partir dos treinamentos oferecidos pelo Cejusc Regional do Cariri, a relação com colegas e familiares foi transformada.
“Nem sempre fui uma pessoa tão compreensiva, mas esse projeto abriu a minha mente para ser uma pessoa mais ouvinte, compreensiva, tranquila, paciente, e isso vem me ajudando demais a ter uma relação melhor com os meus amigos, a saber como me posicionar diante de uma situação de discussão, de conflito, porque, querendo ou não, acontece. Opiniões são diferentes, mas a forma como a gente trata isso, a forma como a gente discute sobre isso, de uma maneira respeitosa e ética, muda toda a perspectiva da pessoa sobre você”, reflete a adolescente, salientando que está “amando participar desse projeto”.
Quem compartilha o mesmo sentimento positivo de integrar o projeto é Levi Alencar, que também é aluno do 9º ano. “Aprendi que na mediação não existe lado certo ou errado. Temos que focar na resolução do problema, sem apontar o dedo a ninguém, explicando o lado do outro e os motivos de suas ações”, afirma o estudante, ao ressaltar a importância da iniciativa.
A Escola Municipal Dona Odorina Sampaio foi a escolhida pelo Cejusc Regional do Cariri para a implantação do projeto-piloto. As técnicas de resolução de conflitos são aplicadas cotidianamente e, segundo a diretora da instituição, Graça Macedo, a iniciativa tem contribuído para tornar o ambiente escolar mais pacífico.

“As alunas e os alunos que fazem parte do projeto entram em ação e estão sempre nos ajudando. Nos recreios, nos intervalos, me procuram para saber de algum fato como possam estar intervindo. E é bastante positivo porque a fala é de estudante para estudante, e quando uma aluna ou um aluno vai solicitar que as regras se mantenham, é importante porque é uma linguagem de igual para igual, que serve de exemplo e contribui para que essas situações não sejam recorrentes, para que a escola fique estabilizada, sem intercorrências”, ressalta a diretora.
COMO FUNCIONA
Entre as ações promovidas pela equipe Cejusc Regional do Cariri estão: formação de mediadores escolares, que contemplou 30 alunas e alunos somente na Escola Odorina Sampaio; promoção de cursos e capacitação em Comunicação Não Violenta, comunicação assertiva e inteligência emocional; mapeamento de conflitos nas escolas e intervenção com ações pedagógicas restaurativas; e realização de oficinas destinadas a estudantes e familiares.
“Em um tempo que a escuta e o diálogo são mais urgentes do que nunca, temos transformado não apenas salas de aula, mas vidas inteiras. Costumo dizer que o projeto é mais que uma iniciativa, é um movimento. Alunos, professores e famílias caminham juntos, aprendendo técnicas de mediação de conflitos, justiça restaurativa e comunicação não-violenta. Em cada encontro, sementes de empatia, escuta ativa e respeito são plantadas. E o que floresce é um ambiente escolar mais justo, acolhedor e humano”, avalia a juíza coordenadora do Cejusc Regional do Cariri, Samara Cabral.
A magistrada explica que estudantes e educadores são escolhidos pela própria comunidade escolar para integrarem uma comissão especial e manterem a prática da cultura de paz viva, tendo o acompanhamento constante do Cejusc Regional. “O resultado desse projeto são relações mais saudáveis, conflitos transformados em aprendizados, pessoas mais seguras, mais capazes de se expressar, de escutar e de construir juntos. Começamos a formar um verdadeiro espiral de paz”, reconhece.

Atualmente, quatro escolas são assistidas pelo projeto. “Queremos ver essa cultura se espalhar por todo o Brasil, escola por escola, coração por coração, porque acreditamos que a paz também se aprende e, quando ensinada com amor, ela se multiplica”, reforça a juíza.
“Esse projeto representa uma ação concreta de transformação pela via do diálogo, com viabilidade e eficácia comprovadas, tendo potencial para ser replicado em todo o país. Para alcançar maior abrangência, precisamos do engajamento contínuo dos Poderes Judiciário e Executivo, da comunidade escolar e da sociedade civil organizada”, defende a coordenadora do Cejusc Regional do Cariri, servidora Amanda Anastácio.
Além disso, não transformou apenas a rotina enquanto Escola, mas também a de educadores, conforme as palavras da professora Jéssica Santos. “O projeto me mudou enquanto pessoa: meu pensamento, a maneira como eu via e enxergava determinadas situações e, principalmente, a forma de lidar com os desafios do dia a dia. Passei a aplicar esses aprendizados dentro da sala de aula, tanto na relação entre professora e aluno, quanto entre os próprios alunos. Mas não ficou restrito ao ambiente escolar: levei também para a minha rotina pessoal, para dentro de casa, para minha família. Hoje tenho aprendido a ouvir de verdade, a escutar e acolher, para que juntos possamos buscar soluções. Isso tem feito uma grande diferença na minha prática pedagógica, nas relações escolares e também na minha vida fora da escola.”
A iniciativa está alinhada ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável nº 16 da Agenda 2030 da Organização das Nações Unidas (ONU), que trata da promoção de “Paz, Justiça e Instituições Eficazes”.
SAIBA MAIS
O Centro Judiciário Regional foi instalado no dia 27 de janeiro de 2023 e abrange 47 comarcas. A unidade atua em três vertentes: processual, pré-processual e cidadania. Por meio do Cejusc Regional do Cariri, o Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE) oferece à população o acesso a um serviço mais célere, no qual conflitos podem ser pacificados de maneira efetiva, sem a necessidade de que o processo seja judicializado.
A unidade lida com demandas envolvendo questões de vizinhança, reparação de danos, revisões de contratos, busca e apreensão, pensão alimentícia, divórcio e guarda. As sessões de conciliação e mediação contam com a atuação de profissionais certificadas(os) pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que são capacitadas(os) pelo Judiciário cearense para facilitar esse diálogo. Havendo acordo, o ato é homologado por juíza ou juiz.
Quem tem interesse em conciliar, pode fazer a solicitação por meio de formulário eletrônico disponível AQUI.



