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Soldado fica calado em interrogatório

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05.08.2010 Fortaleza
Lucinthya Gomes –
Vestindo jeans, camiseta e escondendo o rosto, o soldado do Ronda do Quarteirão, Yuri Silveira, 25, chegou ao 4º Distrito Policial escoltado por homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar. Chegou às 10 horas para prestar depoimento, mas se manteve calado. Passou apenas meia hora na sala do delegado, que aguardava apenas este procedimento para consolidar o inquérito que apura a morte do adolescente Bruce Cristian, 14, na tarde de 25 de julho.
?Ele estava bem abatido?, comentou uma funcionária da delegacia, a respeito do rapaz moreno, de mais ou menos 1,70m, ?bem parecido?, que passou rapidamente pela unidade. Yuri continua recolhido no Presídio Militar, no 5º Batalhão da Polícia Militar, no Centro, desde o fim da tarde de 27 de julho.
Em entrevista ao O POVO, o advogado de Yuri Silveira, Ernando Uchôa Sobrinho, reclamou que o depoimento foi realizado sem aviso prévio -a intimação teria chegado ao seu escritório com apenas uma hora de antecedência -e destacou que, por causa do período eleitoral, existe uma pressão muito grande para que o caso seja solucionado. Sobrinho afirma que o soldado não falou nada ao delegado seguindo recomendações suas. ?Orientei que ele permanecesse silente e só apresentasse a versão dele num ambiente de segurança (diante do juiz). A preocupação é não expô-lo, porque seria entregá-lo aos leões?, afirma, acrescentando que não poderia permitir o depoimento da forma como foi realizado, sem aviso prévio.
?Como poderíamos chancelar um procedimento desse? Nós não vamos convalidar essa postura?. Sobre o estado emocional de Yuri, Sobrinho citou que ele continua abalado, em profundo desespero. ?Estamos falando de um rapaz de 25 anos, completamente aturdido e perdido, em profundo desespero e depressão, sem condições de se pronunciar publicamente, de concatenar pensamentos?, afirma.
Pressão política
Na opinião dele, a pressa na condução do caso é para minimizar as consequências políticas que o fato gerou. ?A pressa para degolá-lo é muito grande. Antes da eleição, esse rapaz precisa estar expulso da Polícia e denunciado pelo Ministério Público. A pressa é isso ser feito antes que eleição se realize. A conotação maior não é penal, é política?, lamenta.
?O que estão fazendo com esse rapaz é covardia porque ele perdeu a vida em vida. Ele foi claramente um dos protagonistas dessa tragédia, pelo fato que a gente sabe que ele não agiu de propósito, com a intenção de matar. Mas nada disso está sendo levado em consideração?, assevera. O delegado do 4º DP, José Munguba Neto, negou que o depoimento tenha sido realizado sem aviso prévio, mas não quis dar entrevista ontem. Hoje, às 9 horas, ele falará sobre o caso no 4º DP, no bairro Pio XII, durante coletiva de imprensa.