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Policiais acusados de sequestro são presos

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10.08.2010 Fortaleza
Os três policiais civis acusados de extorquir e sequestrar familiares de um cabo da PM foram presos após depoimento na Superintendência da Polícia Civil. Os acusados se mantiveram calados durante o interrogatório. A prisão é temporária
Tiago Braga –
Estão presos os três policiais civis acusados de extorquir e sequestrar familiares de um cabo da Polícia Militar, na última sexta-feira. A prisão é temporária – de 30 dias – e foi decretada pelo juiz da comarca de Horizonte, Francisco Gladyson Pontes Filho. Os inspetores foram detidos na tarde de ontem, após depoimento na sede da Superintendência da Polícia Civil, no Centro. À noite, eles foram transferidos para a Delegacia de Capturas.
Durante o depoimento, os três policiais se mantiveram calados. ?Eles se reservaram ao direito de só falar em juízo?, informa o advogado dos acusados, Paulo Pimentel. A prisão preventiva foi decretada logo depois. O pedido foi feito pelo delegado Flávio Lemos, da Delegacia Metropolitana de Maracanaú. Segundo o superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, a medida foi tomada para não atrapalhar as investigações. ?É para fazer as coisas com mais tranquilidade.?
Os três policiais presos são inspetores do 6º Distrito Policial (Messejana). Eles foram identificados como Aristides Ferreira dos Santos Neto; José Benedito Lopes Ribeiro; e Raimundo Flavinei Moreira Liberato. A Polícia está investigando o envolvimento de uma quarta pessoa. Mas, até a noite de ontem, o outro possível suspeito não havia sido localizado.
Denúncia
Na última sexta-feira, um cabo da PM que trabalha em Maracanaú foi até a delegacia da área prestar queixa contra os policiais civis. Em depoimento, ele afirmou que foi extorquido pelos inspetores, que também teriam sequestrado sua filha – grávida de três meses – e outras duas pessoas. Segundo a versão das possíveis vítimas, a família estava em um sítio, em Horizonte, quando os policiais civis chegaram em uma viatura do 6º DP. O cabo da PM não estava lá.
Os inspetores teriam entrado na casa e procurado por droga. Em seguida, teriam pedido R$ 50 mil e levado três pessoas na viatura: a filha do cabo da PM; um sobrinho do policial e o caseiro. De acordo com a denúncia, os policiais disseram que só liberariam as vítimas após o pagamento do resgate. O valor teria sido negociado e reduzido para R$ 15 mil. O pagamento teria sido feito pelo próprio cabo da PM, nas proximidades da Central de Abastecimento do Ceará (Ceasa), em Maracanaú. Após a entrega do valor, o PM teria seguido a viatura e visto os inspetores entrar no 6º DP.
O advogado dos policiais civis, Paulo Pimentel, nega a versão. Segundo ele, os inspetores falarão ?no momento oportuno.? ?O que posso adiantar é que eles não fizeram nada que possa ser considerado ilícito?, diz. Segundo o advogado, eles foram até Horizonte para cumprir uma diligência e informaram isso para a Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops). Pimentel não informou qual diligência seria.
De acordo com Dantas, os policiais teriam informado no 6º DP que foram até Horizonte cumprir um mandado de prisão por tráfico de drogas. O POVO tentou falar com o juiz da comarca de Horizonte, mas ele não foi localizado pela reportagem.
E-Mais
O superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, pediu que ficasse claro que ele não teria desviado o foco na entrevista realizada domingo, 8, e publicada ontem, pelo O POVO. ?Não sou homem de desviar o foco. Apenas eu digo o que pode ser dito naquela ocasião?, comenta.
Dantas acrescentou que o importante é obter resultados positivos. ?Se formos dar informações tão somente para satisfazer a imprensa, corremos o risco de pecar e trazer prejuízo para as investigações?, opina.
O advogado dos acusados, Paulo Pimentel, deverá entrar com pedido de revogação da prisão temporária. ?Mas primeiro vou tomar conhecimento de todo o inquérito?, informa.
ENTENDA O CASO
DIA 6
Cabo da Polícia Militar e seus familiares vão até a Delegacia Metropolitana de Maracanaú e prestam queixa contra os policiais civis. A denúncia é de que os inspetores teriam cometido crime de extorsão mediante sequestro.
O crime teria sido cometido no mesmo dia da denúncia. Segundo a versão das possíveis vítimas, a filha do cabo da PM estava com familiares em um sítio em Horizonte quando os policiais civis chegaram ao local. Eles teriam procurado por droga e agredido as pessoas que estavam na casa.
O clima teria ficado tenso e os policiais civis pediram dinheiro. Eles teriam tentado extorquir R$ 50 mil, mas acabaram diminuindo o valor para R$ 15 mil. Para garantir o pagamento, os inspetores teriam levado três das vítimas na viatura. O crime configura sequestro.
A família do PM teria conseguido arranjar R$ 10 mil. Os outros R$ 5 mil seriam pagos futuramente.
DIA 8
O superintendente da Polícia Civil, Luiz Carlos Dantas, informa que afastará os três policiais de suas funções no 6º Distrito Policial (Messejana).
DIA 9
Policiais são afastados e chamados para depoimento. Durante o inquérito, os acusados se mantêm calados.
Logo após o depoimento, chega à Polícia determinação do juiz de Horizonte para prisão temporária dos acusados. Eles são detidos na sede da Superintendência da Polícia Civil, no Centro, e depois encaminhados para a Delegacia de Capturas, no mesmo bairro.