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Ativista Kay Pranis é elogiada pelo trabalho pioneiro em Justiça Restaurativa durante palestra na Esmec

Ativista Kay Pranis é elogiada pelo trabalho pioneiro em Justiça Restaurativa durante palestra na Esmec

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Com auditório lotado, a Escola Superior da Magistratura do Ceará (Esmec) recebeu a norte-americana Kay Pranis, referência mundial em Justiça Restaurativa, que ministrou a palestra “Justiça Restaurativa e os Círculos de Construção de Paz”. O evento ocorreu na noite dessa sexta-feira (22/09) e foi transmitido ao vivo pelo Facebook da Esmec.
A mesa de honra da solenidade contou com as presenças de Kay Pranis e de sua tradutora, Fátima De Bastiani; da governadora em exercício, Maria Izolda Cela de Arruda Coelho; do juiz Ângelo Bianco Vettorazzi, coordenador-geral da Esmec; Renato Pedrosa, delegado da Terre des hommes (Tdh Brasil); Francisco Tarcísio Rocha Gomes Júnior, diretor de Ensino da Escola Superior do Ministério Público (ESMP); e da defensora pública Érica Regina Albuquerque de Castro Brilhante, coordenadora do Centro de Justiça Restaurativa da Defensoria.
Na abertura do evento, o juiz Ângelo Vettorazzi disse que a vinda da ativista comunitária estadunidense a Fortaleza para ministrar workshop e palestra na Esmec foi um momento histórico para o Ceará. “Saiba da felicidade, honra e satisfação em recebê-la, e como disse no início, quando nos conhecemos em sua chegada, esperamos que essa não seja a única vez que a senhora irá nos brindar com sua sabedoria e sensibilidade.”
Para Vettorazzi, “a importância da Justiça Restaurativa é algo inegável para todos nós. É necessário reconhecer que há muitos conflitos nas relações sociais, mas há também várias formas de tratar desse assunto. A prática restaurativa é uma delas, e vem ganhando muita força no Ceara”.
O magistrado explicou que “enquanto a Justiça Distributiva trabalha com algo voltado para o passado, aplicando suas penalidades – e isso também é importante –, a Justiça Restaurativa trabalha com o olhar para o futuro, pois se debruça sobre causas envolvendo a comunidade, responsabilizando o ofensor e também acolhendo as vítimas e seus familiares. Tudo isso seguramente é uma nova forma de ver os problemas sociais”.
Ele destacou ainda que a vinda de Kay Pranis foi uma iniciativa do Instituto Terre des hommes, que a Esmec logo abraçou, e contou também com o apoio das Escolas do Ministério Público e da Defensoria, bem como da Vice-Governadoria do Estado. Vettorazzi acrescentou que “devido à importância do tema, a Esmec já ofereceu este ano 140 horas de formação em Justiça Restaurativa, sempre em parceria com a Tdh”.
TRANSFORMAR VIDAS
Falou em seguida Renato Pedrosa, delegado da Tdh Brasil. “Esse é um evento nacional com uma palestrante internacional, que só foi possível devido à parceria da Tdh com as demais instituições. Há mais de sete anos vínhamos articulando para que Kay Pranis pudesse vir ao Ceará. Espero que toda vez que ela vier ao Brasil inclua Fortaleza no roteiro, para que possamos consolidar essa cultura de paz.”
Segundo ele, “tanto a palestra como o workshop são uma demonstração de como é possível fazer a diferença aqui no Estado. Estamos vendo que, com essa articulação das instituições, é possível disseminar a cultura de paz. Trabalhar na prevenção da violência só é possível em parceria. A ideia desse evento é que ele possa transformar, fazer a diferença na vida das crianças e dos adolescentes, possibilitar que no Brasil tenhamos pessoas que vão multiplicar os círculos de construção de paz, seja na escola, nas comunidades, em centros educacionais, no sistema de Justiça. A ideia é tocar os corações dos participantes, formar pessoas estratégicas, para que elas possam fazer a diferença na vida dos jovens em situação de vulnerabilidade”.
PLANTADORA DE SEMENTES
A governadora em exercício Izolda Cela também ressaltou a importância da parceria entre instituições e enalteceu a oportunidade que o Ceará teve em receber convidada de renome mundial. “É muito importante poder ouvir Kay Pranis, compartilhar de seu saber, de sua experiência, do seu compromisso com a Justiça Restaurativa, com todas essas praticas relacionadas à construção de paz, de relações pacificas.”
“Eu não tenho dúvida de que a transformação desse esgarçamento da teia social, dessas relações graves entre famílias e da transformação de subjetividades não são coisas que acontecem por decreto, no atacado, mas sim por meio de um trabalho de formiguinha, de plantador, de semente. Kay Pranis é plantadora de boas sementes. Espero que possamos multiplicar cada vez mais essa grande corrente de pessoas que acreditam nos princípios fundamentais da Justiça Restaurativa, dessa prática que realiza um dos mais nobres objetivos da justiça que é a tomada de consciência, responsabilidade e de fé das pessoas na transformação, que pode acontecer a partir do encontro verdadeiro entre elas, da oportunidade que se dá a essas pessoas, que vêm pelo amor que transforma.”
“A JUSTIÇA RESTAURATIVA SERVE PARA LEMBRAR QUEM NÓS REALMENTE SOMOS”

Kay Pranis fez discurso sereno e bastante elogiado, tanto pelos presentes como pelos internautas que se manifestaram nas redes sociais. A ativista e pesquisadora iniciou dizendo ser fundamental para o trabalho que realiza saber que cada ser humano tem sua sabedoria interna. “A filosofia da Justiça Restaurativa e os processos restaurativos são todos para lembrar quem nós realmente somos”.
Veja a seguir alguns trechos da palestra:
“Eu quero fazer aqui o meu momento de gratidão pelos ancestrais dessa terra, pelos meus próprios ancestrais. Pela terra, pelas águas, pelas pedras, pelas rochas, pelos animais e o precioso ar que nos compartilhamos. Eu quero agradecer ao Brasil amplamente, por trazer o melhor que eu tenho de mim. Eu acho que eu mostro o meu melhor aqui no Brasil porque os brasileiros me dão muito amor.”
“A cultura de paz necessita de mudanças diárias para podermos alcançar um bom resultado. Os círculos oferecem uma ferramenta prática para alcançarmos a necessária mudança, e para dar apoio à sustentabilidade, a longo prazo, dessas mudanças. A cultura de paz deve trabalhar no sentido de atender às necessidades de significado e de pertencimento, que são as mais básicas para o ser humano.”
“Infelizmente, vivemos uma cultura que bloqueia o pertencimento e o significado, para a maioria das pessoas que fazem esse nosso meio social, particularmente para membros de grupos marginalizados, as pessoas pobres. Mas não só as pessoas marginalizadas, a nossa cultura ocidental, de uma maneira geral, não nutre nas pessoas o desejo de se atender às necessidades do significado de pertencimento.”
Assista à palestra de Kay Pranis na íntegra no Canal Esmec do Youtube, ou no Facebook da Escola.