12.02.10
Nacional
No epicentro do escândalo político que abala o governo e o país, O Superior Tribunal de Justiça (STJ) decretou por 12 votos a 2 a prisão – inédita na historia política nacional ? do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda [sem partido]. Além dele, mais cinco pessoas envolvidas na tentativa de suborno do jornalista Edson dos Santos, o Sombra também tiveram sua prisão decretada pela Justiça. O tribunal decidiu ainda pelo afastamento de Arruda do governo do Distrito Federal.
O ministro Fernando Gonçalves aceitou pedido da subprocuradora-geral da República, Raquel Dodge, e a Corte do tribunal foi convocada para analisar a decisão de Gonçalves, relator do inquérito que investiga o suposto esquema de corrupção no GDF (Governo do Distrito Federal). O Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra o governador e mais cinco pessoas por formação de quadrilha e corrupção de testemunha.
?Se não é possível fazer conclusões nesse atual estágio […] por outro lado é inconteste que a presença do governador está ligada aos recentes eventos e tem gerado instabilidade na ordem publica da cidade. A única forma de se fazer cessar é decreto de prisão preventiva?, disse o relator.
Além de Arruda, o STJ determinou a prisão do ex-deputado Geraldo Naves (DEM); Weligton Moraes, ex-secretário de Comunicação; Rodrigo Arantes, sobrinho do governador; Haroaldo Brasil de Carvalho, diretor da CEB (Companhia Energética de Brasília); e Antonio Bento da Silva, conselheiro do Metrô. Silva, no entanto, já está preso.
A Polícia Federal prendeu, na semana passada, o conselheiro do Metrô. No momento da prisão, ele entregava R$ 200 mil a Sombra. Silva está no presídio da Papuda, em Brasília.
Segundo o jornalista, o dinheiro seria a primeira parcela de um suborno de R$ 1 milhão em troca de um pacote de serviços que incluía uma declaração afirmando que os vídeos que mostram políticos de Brasília recebendo dinheiro de suposta propina foram manipulados por Durval Barbosa, delator do esquema.
Em depoimento à Polícia Federal, Sombra disse que, além de Silva, Naves e Weligton foram interlocutores do governador na tentativa de suborno.
O jornalista ainda entregou aos policiais um bilhete que teria sido escrito por Arruda como prova de que estaria envolvido na negociação de suborno.
Arruda
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (sem partido), se apresentou na tarde desta quinta-feira à Polícia Federal em Brasília após o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decretar sua prisão por envolvimento na tentativa de suborno do jornalista Edson dos Santos, o Sombra. Seis carros que deixaram a residência oficial em Águas Claras acompanharam Arruda até a PF.
Os carros, todos com vidros escuros, chegaram pela entrada principal e se dirigiram ao Instituto de Criminalística, que fica ao lado da superintendência.
Prisão é marco histórico para política brasileira
Para os cientistas políticos, entrevistados pelo Jornal O Estado ontem, a prisão do governador de Brasília, José Arruda [sem partido], é um marco para a história política do Brasil. Diversos casos de corrupção no Brasil envolvendo recursos do orçamento da União têm contornos parecidos, porém, nenhum teve como desfecho a prisão do chefe de Governo.
Muitas vezes, os escândalos fraudulentos até parecem um ?dejavu?, expressão francesa que significa ?já ter visto?. Alguns exemplos com estruturas semelhantes, já foram noticiados como o caso das sanguessugas ? venda dolosa de ambulâncias; da construtora Gautama, apontada como a principal beneficiada do esquema em licitações públicas e do suposto desvio de recursos em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), descoberto pela João de Barro.
Segundo o historiador e sociólogo da Universidade de Fortaleza (Unifor), Rosendo Amorim, desde a redemocratização do País, não existe ocorrência de governadores presos por motivação de cunho econômico, existiu caso de prisão, mas, por perseguisão política durante o Regime Militar. Ainda, de acordo com o pesquisador, o principal problema do Brasil é a corrupção, e, no caso específico do governador foi deferida sua prisão devido à sua tentativa de obstruir a Justiça.
O professor de ciências políticas da Universidade de Fortaleza, Francisco Moreira, afirmou que esta não foi a melhor decisão ? a prisão de Arruda. Para ele, não é construtiva para o cenário político atual vivenciado na atualidade política do País. Tudo porque o Estado tem todo um aparelhamento jurídico para corrigir esse tipo de situação.
Aspecto
Já o professor do Departamento de Ciências Sociais de Universidade Federal do Ceará (UFC), Uribam Xavier, afirmou que é um dado importante para o cenário político. Em sua avaliação, três aspectos devem ser observados, como o trabalho realizado pela mídia, a mobilização popular e o posicionamento da Justiça, que não deixou a Câmara Distrital abafar o escândalo com o seu poder.
Para o pesquisador, a prisão de Arruda deve ser encarada como forma exemplar, e deve ser mantida. Em relação às declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi taxativo. ?É um ato falho. Isso demonstra, que há existência de algo obscuro. Ele tem medo?, afirmou.
Ainda há esperança
Segundo pesquisa publicada pela Universidade de Brasília (UnB), de autoria de Ricardo Caldas, cerca de 84 % da população confia na redução da criminalidade, principalmente nos caso envolvendo corrupção. O estudo também apontou que a sociedade não é tão participativa e atuante, afirmando que as pessoas só tomam alguma atitude quando há interesse privativo. De acordo com o estudo, o brasileiro desconfia das punições da Justiça.