Conteúdo da Notícia

“Foi ela quem escolheu a gente”

Ouvir: “Foi ela quem escolheu a gente”

26.12.2009 Fortaleza
Bruna Galvino, 17, tem síndrome de Down e foi adotada em 2009. Este foi seu primeiro Natal com a certeza de pertencer a uma família
Lucinthya Gomes
lucinthya@opovo.com.br
26 Dez 2009 – 00h42min
Este foi um Natal diferente. Nada de abrigo, nem futuro incerto. Pela primeira vez, Bruna, aos 17 anos, celebrava o nascimento de Jesus na sua própria família, cercada do amor de uma mãe, de três irmãs e sobrinhos. Conquistou o que seria quase impossível para uma jovem na sua idade com síndrome de Down. Foi adotada pela atendente infantil Eliane Galvino, 47. “Ela faz parte da minha vida desde a primeira vez que a vi. Foi um presente de Deus para mim“, diz Eliane.
O primeiro encontro aconteceu quando Bruna tinha apenas três meses de vida e chegou ao abrigo Tia Júlia. Funcionária da casa, Dona Eliane se apaixonou pela menina, mas não podia adotar, pois era casada e o marido não aceitou a ideia. Mesmo assim, acompanhou todo o crescimento da Bruna. Entre idas e vindas ao abrigo, a menina passou por três lares substitutos & projeto em que uma família recebe ajuda do governo para acolher uma criança de abrigo provisoriamente até que ela seja adotada.
“Num deles, uma senhora quis adotar, mas adoeceu e veio a falecer. No último lar substituto, a Bruninha morou por 12 anos. Mas, com o fim do programa em 2008, a mãe substituta não quis ficar com ela (adotá-la). Quando soube que ia voltar para o abrigo, Bruna entristeceu“, lembra. Ao longo destes anos, Dona Eliane separou-se do marido e as três filhas biológicas cresceram.
“Deus tem seus enigmas. Ele prepara caminhos para nós e acredito que estava guardando esse presente para mim. Quando soube que a Bruna ia voltar pro abrigo, pensei: Agora é minha vez“, recorda. O processo de adoção foi iniciado em novembro de 2008 e Dona Eliane começou a ter direito às visitas. O Natal passado foi na sua casa, mas Bruna estava apenas como visitante e ainda não sabia que pertenceria à família. “Ela estava tímida, calada, quietinha. A fisionomia era de tristeza, porque ela não sabia se a adoção daria certo“.
Só em maio saiu o resultado da adoção. “Quando a juíza disse para nós duas que a Bruna seria minha filha a partir daquele momento, ela ficou eufórica, feliz, cumprimentando todo mundo na rua, dizendo que sentia algo diferente na barriga, que era emoção“, diz. Naquele dia, Bruna não conseguia dormir. “Toda hora ela olhava pra mim, alisando meu rosto“.
Desde então, Bruna tem se adaptado muito bem à família e tem se desenvolvido muito. “Eu digo que ela escolheu a gente, que alegrou a minha vida. Adotei por amor. O fato de ter síndrome de Down não faz diferença“, sorri, garantindo que Bruna foi o melhor presente não só para ela, mas para toda a família. “Ela me cativa todo dia um pouco“. Por esse motivo, para Bruna – que agora tem Galvino no sobrenome – este Natal teve o sabor de doce lar.
SERVIÇO
> Para adotar uma criança ou adolescente, os interessados devem procurar o Juizado da Infância e da Juventude, no Fórum Clóvis Beviláqua.
DADOS DA ADOÇÃO
>Crianças adotadas em 2009: 11
– Crianças adotadas em 2008: 50
– Crianças que estão em processo de adoção (até novembro de 2009): 22
– Pessoas habilitadas para adotar: 227
– Casais habilitados e residentes em Fortaleza: 118
– Solteiros habilitados e residentes em Fortaleza: 52
– Casais habilitados e residentes em outra Comarca: 49
– Solteiros habilitados e residentes em outra Comarca: 8
Crianças e adolescentes cadastrados para adoção: 65
Crianças e adolescentes disponíveis: 57
PERFIL DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES DISPONÍVEIS
>Adolescentes (acima de 12 anos): 31
– Saudáveis/Doença tratável: 17
– Paralisia cerebral/hidrocefalia: 5
– Retardo/atraso neuro psicomotor / hiperativo: 8
– Síndrome de Down: 0
– Deficiência física/visual/auditiva: 1
– HIV: 0
Crianças: 26
> Saudáveis/Doença tratável: 11
– Paralisia cerebral/hidrocefalia:6
– Retardo/atraso neuro psicomotor/hiperativo: 4
– Síndrome de Down: 0
– Deficiência física/visual/auditiva 4
– HIV: 1
– Grupo de 2 irmãos: 8
– Grupo de 3 irmãos: 0
– Grupo de 4 irmãos: 1
Crianças em visitação: 5
Crianças com cadastro suspenso para avaliação: 3
E-Mais
>No dia da entrevista, Bruna participava da festa de Natal da Escola Polivalente, no José Walter, onde estuda. Atendia a cada chamado por Bruninha com um abraço. Chama a todos pelo nome. Neste dia, usava um vestido laranja, florido e com um laço de fita na cintura. Uma trança enfeitava o cabelo.
>Bruna gosta de dançar, de cantar hinos de louvor e de passear. Passa parte do seu tempo brincando com o sobrinho. Toda noite antes de dormir, vai dizer boa noite à Dona Eliane: “Ela renovou isso na minha vida: pedir a bênção antes de dormir“.
>Bruna diz que quer estudar para fazer faculdade de Geografia. Já tem até um namorado, Paulo Henrique, filho de outra funcionária do abrigo. “A mãe dele disse que deixa a gente casar com 32 anos. Vai ser num lugar… como é o nome?“, pede a ajuda da mãe. “É, num buffet, eu vou ter um filho“, planeja.
>Para Bruna, Dona Eliane é “uma boa mãe, que cuida da filha e é gente fina“. Para Dona Eliane, Bruna é muito carinhosa. “Agora tenho uma companheira, uma amiga. Vejo a Bruna como uma filha normal, não tem isso de que foi adotada“.
>Bruna gosta de colaborar nas atividades da casa. “Ela quer mostrar que participa da família, que é importante para a casa. Ela quer ser útil“, entende Dona Eliane.