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Famílias unidas contra o crack

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11.03.2010 regional
O I Fórum de Sensibilização e Prevenção ao Crack debateu combate e controle contra a droga
Paraipaba. “É adrenalina e, ao mesmo tempo, a destruição da vida”. O relato anônimo de um jovem usuário de crack, no curta “Selva de Pedra: Fortaleza noiada”, apresentado no I Fórum de Sensibilização e Prevenção ao Crack, em Paraipaba, mostra os dois lados da dependência de uma droga que se alastrou pelo Interior do Estado. E, mesmo que os exemplos na prática sejam preocupantes, cada vez mais as mães encontram-se de mãos atadas ao verem seus filhos ingressarem por um caminho que nem sempre tem volta.
Sem escolher classe social, raça ou nível de escolaridade, o uso do crack se alastra como uma epidemia e, consequentemente, acarreta problemas na segurança pública, estrutura familiar, saúde e colabora para as desigualdades sociais.
Mesmo diante dos problemas, é possível acreditar na solução para pôr fim ao consumo do crack. O segredo está na sociedade: mantendo-se unida e criando redes de ações comunitárias. Quem pensa nessa proposta é o psicólogo e organizador do I Fórum de Sensibilização e Prevenção ao Crack, Márcio Frota, realizado de 1º de março até a última terça-feira, no Centro de Promoção Turístico Ambiental CPTA da Lagoa da Canabrava, em Paraipaba.
Na primeira semana de realização do encontro, Márcio conta que conseguiu reunir moradores e representantes comunitários para que, juntos, possam dar continuidade às ações contra a proliferação do crack no município. “Foram discutidas ações para a criação de uma rede comunitária e iremos ampliar esta política junto com as escolas e também com a Igreja, que já desenvolve trabalhos com jovens nessa área”, diz.
O psicólogo esclarece ainda que os trabalhos terão melhorias quando for realizado o mapeamento de usuários de crack. “Mas, para isso, iremos contar com a ajuda de profissionais da saúde que conhecem os usuários e será um mapeamento quantitativo e não identificaremos nomes”, revela Frota. Ele justifica ser preciso a ajuda do Estado para que os usuários do crack possam encontrar uma saída, “porque ninguém consegue sair sozinho”.
Para a juíza da Comarca Vara Única de Paraipaba, Cleiriani Lima Frota, é preciso haver uma humanização no tratamento de jovens usuários de drogas perante a Justiça. “Se não se formar uma visão humanista dos advogados, a estrutura não funcionará. Mas nem tudo deve ser levado à Justiça, enquanto que a sociedade também tem a sua responsabilidade”, diz.
Em relação ao tratamento dos jovens, promovido pelo Estado, Cleiriani ressalta que existem poucas vagas. “Há convênio para 45 vagas, sendo 15 para mulheres e o restante para homens em todo o Estado. Isso é pouco, mas esperamos que haja ampliação deste serviço”, diz. A secretária de Saúde de Paraipaba, Luanda Alcântara, diz ser preciso haver políticas para o combate ao tráfico e engajamento social, principalmente familiar, que atualmente é considerado um dos meios importantes para evitar o contato dos jovens com as drogas.
Para o diretor do documentário “Selva de Pedra: Fortaleza Noiada”, Preto Zezé, é preciso dar um outro foco ao crack, coletando depoimentos de usuários e ex-viciados na droga, deixando o discurso já estruturado de policiais e demais autoridades. “Os depoimentos dos usuários são importantes para que se possa entender a complexidade dos problemas”, diz. O resultado do documentário só foi possível após três anos de pesquisa.
No entanto, os meios sociais podem também interferir para que um jovem abandone as drogas e encontre uma razão para viver, seja com base na fé ou na família. O porteiro Herbster Cruz Berlamino, 28 anos, largou o vício do crack aos 20anos. A razão para encontrar a saída foi quando ele estava na prisão e, em uma das visitas da esposa – na época grávida de gêmeos – o fez refletir que a vida passaria a ter outro sentido. A partir daquele momento, Herbster lutou contra o vício e também contra os fatores que o levaram às drogas: o abandono da família. “A visita da minha esposa me sensibilizou muito. Ela sofreu demais com a minha dependência e hoje nossos filhos estão com sete anos. Não queria atingir minha família novamente por causa das drogas”, conta. “É preciso ter esperança e força de vontade para iniciar o caminho de volta à vida”, afirmou ele.
ESTRATÉGIAS
“Iremos ampliar a ação nas escolas e se unir à Igreja, que já atua na área”
Márcio Frota
Psicólogo do Nasf de Paraipaba
“É preciso formar uma visão humanista dos advogados para êxito no trabalho”
Cleiriani Lima Frota
Juíza da Comarca de Paraipaba
“Os depoimentos dos usuários são importantes para entender o problema”
Preto Zezé
Diretor do documentário “Selva de pedra: Fortaleza noiada”
MAIS INFORMAÇÕES
Prefeitura de Paraipaba
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (Nasf)
(85) 3363.1440/3363.1212
MAURÍCIO VIEIRA – Repórter