Conteúdo da Notícia

2010 já registra recorde no número de recalls

Ouvir: 2010 já registra recorde no número de recalls

22/11/2010 Negócios
Foram 53 chamadas de montadoras para reparação de defeitos, que envolveram mais de 1 milhão de veículos
Uma máxima antiga já não vem fazendo sentido. Comprar carro novo já não significa ter menos dor de cabeça e um número menor de idas e vindas às oficinas mecânicas. O ano de 2010, mesmo tendo o fim de novembro e dezembro pela frente, já registra recorde absoluto no número de recalls. Foram 53 chamadas oficiais de montadoras para reparação de defeitos de fábrica, que envolveram mais de 1 milhão de veículos. O número já é 47,2% maior que todo o ano passado, que registrou 36 chamadas das fábricas. Em 2008, foram apenas 27.
Os recalls não tem se diferenciado entre carros importados ou nacionais. São defeitos que podem ser considerados simples, como no caso do reclinador do banco no Ford Fusion (anunciado em abril para os modelos 2010), ou sérios, capazes de oferecer riscos, como o Mitsubishi Outlander (anunciado em fevereiro para modelos 2006 a 2010), que apresentou problemas nos freios, assim como o BMW Série 5, Série 6 e Série 7 (anunciado em outubro para os modelos de 2001 a 2009).
O alto número de problemas de fábrica chama atenção e exige um consumidor atento aos direitos no momento de adquirir um automóvel.
Para a secretária executiva do Programa Estadual de Proteção e Defesa do Consumidor (Decon), Vanja Fontenele, o Código de Defesa do Consumidor (CDC) é um instrumento que existe para garantir que o cidadãos não sejam lesados. Para ela, os recalls já representam um avanço. “Nada mais é que um reconhecimento público de que houve um erro na fabricação do produto. Só veio a partir da obrigação do próprio código. Ja é uma conquista da Lei. O consumidor que tem algum prejuízo e precisa de reparo, o recall funciona como um reforço para conseguir algum retorno por conta do defeito”.
A secretária executiva do Decon também explica que o CDC prevê uma série de direitos ao consumidor, dentre os quais, dependendo dos casos, podem prever até a devolução do valor pago pelo automóvel ou substituição por outro bem. Quanto a uma cultura em que o cidadão ainda desconfia de exigir seus direitos judicialmente, Vanja Fontenele já enxerga mudança. “Esse pensamento é por conta de uma cultura de 20 anos apenas de Código de Defesa do Consumidor (CDC) e por conta da burocracia. Em muitas vezes, as grandes montadoras perderam casos. A jurisprudência tem sido muito favorável a isso”.
Alta demanda
Para o presidente da Fenabrave-CE (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores do Ceará), Fernando Ponte, o aumento do número de recalls representa também uma nova relação entre montadoras e consumidores, no sentindo de garantir um produto de qualidade. “As fábricas estão muito focadas no consumidor. Elas querem realmente que o consumidor se sinta seguro em comprar um veículo no Brasil. Estão procurando cada vez mais aprimorar”. De acordo com Ponte, o aumento nas vendas, segundo ele em uma média mensal de 4.500 veículos emplacados na Capital cearense, também é uma causa para esse crescimento. “Há um crescimento do parque automobilístico. Volume grande de carros. Em terceiro lugar, há uma preocupação constante das montadoras junto aos fabricantes de autopeças. A produção está caminhando, e as entregas estão sendo feitas nas linhas de montagem. Tiram 10 a 15% das peças para teste. É possível que passe alguma”, diz.
Outro fator para o aumento deste problema, segundo o presidente da Fenabrave-CE, é a preocupação das montadoras de preservação de sua imagem. “Aspectos que levaram a mudança. Há preocupação com as autopeças em manter a imagem positiva com uma maior transparência”, explica.
Dor de cabeça
Para o motorista Francisco Aldery Ângelo da Silva, a alegria de comprar um carro “0” km para desenvolver o seu trabalho se transformou em um calvário interminável, que resultou em 11 entradas na concessionária por defeitos dos mais variáveis possíveis. Proprietário de um Gol G5, do ano 2008/2009, ele já luta na Justiça para reaver o dano material. “Tive problemas com ar condicionado, que resultou em prejuízo para o carro. Passei cinco dias para consertar. Depois foram molas que soltaram, friso do lado direito descolando, lanterna traseira do lado esquerdo que veio quebrada, além da tampa do reservatório da gasolina”, lamenta.
“Em audiência no Decon, não quiseram estender a garantia, nem devolver o que gastei. Agora está nas mãos do juiz o processo. Ligo a para a fábrica e dizem que o problema é com a concessionária e vice-versa. O problema é que o carro está todo mexido. Não mais original”, conta.
GUSTAVO DE NEGREIROS
REPÓRTER
Análise
“Recall funciona como reforço para conseguir algum retorno por conta do defeito”.
Vanja Fontenele
Secretária executiva do Decon
“As fábricas estão muito focadas no consumidor. Querem que ele se sinta seguro”.
Fernando Ponte
Presidente da Fenabrave-CE