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Violência e mídia sensacionalista

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10.01.2011 opinião
Tornou-se regra em programas ?policiais? a apresentação de populares pedindo ?justiça?. O que é justiça para a população sedenta de sangue, e na maioria das vezes levada pela emoção e pela ira? Qual conceito de justiça é proclamado por tais programas? Seria aquele do direito vigente em nosso país ou uma pretensa ?justiça? voltada para interesses mesquinhos?
Tal espetacularização da criminalidade cria um clima de tensão, medo e insegurança constante, envolvendo a população num transe direcionado para interesses de grupos políticos sedentos de poder. Devemos convir que o coro daqueles que pedem justiça na verdade acaba sendo desviado para a ideia de vingança, uma vez que não se reconhecem os diretos daqueles que estão sob a tutela da Polícia e da justiça, os presos. Suas imagens são utilizadas para reforçar a apelação sensacionalista dos apresentadores que bradam contra as ?autoridades?, sempre citadas impessoalmente, de forma a mascarar as reais pretensões de audiência.
Um dos maiores absurdos destes programas ?policiais?, na verdade programas de entretenimento, é o horário em que são veiculados (meio-dia), onde se apresentam verdadeiros banquetes de sangue para as famílias, que assistem curiosas aos crimes cometidos em seus bairros, num clima de filme de suspense com direito até mesmo a trilha sonora. Nem as crianças são poupadas deste espetáculo sangrento. Tais programas deveriam, pelo mínimo de bom senso, ser apresentados depois das 22 horas, pois a banalização da criminalidade e a espetacularização da miséria se tornaram os carros-chefes de tais programas.
A maioria destes programas fere a própria ideia de justiça, ao julgarem sumariamente e condenarem os acusados, pois usam suas imagens, as quais são veiculadas numa espécie de vingança coletiva, aviltando os mesmos. Isso é evidente quando se usam os epítetos, como se tornou praxe entre os acusados de pedofilia e outros crimes, alcunhados de ?monstros? e ?desqualificados?.
Podemos acrescentar o brado revoltado destes ?justiceiros? da mídia contra os ?direitos humanos?, como se os presos ou acusados perdessem sua humanidade e seus direitos, uma vez tenham cometido algum delito. Há programas que buscam apresentar alternativas não-violentas de combate à violência, como instituições que buscam recuperar viciados e delinquentes. Não bastasse os apresentadores serem candidatos a cargos públicos, aproveitando-se da confusão na mente do povo. Falam de direitos humanos como uma entidade acima de tudo, que defende apenas os ?vagabundos?, que não enxerga o sofrimento das vitimas. Não enxergam a verdadeira causa da criminalidade, que é sempre apontada como falta de Polícia, relegando a verdadeira causa para segundo plano.
Resta-nos como alternativa ler criticamente este espetáculo, que cada vez mais toma corpo na mídia e conduz a uma histeria coletiva, que ao invés de combater a violência agrava-a mais ainda em sua forma simbólica, numa espécie de sado-masoquismo voyeurista.
Fco José da Silva – filosofranz@yahoo.com.br
Prof. Mestre em Filosofia na Universidade Federal do Ceará-Cariri