Conteúdo da Notícia

O inferno de Dante

Ouvir: O inferno de Dante

3.01.2011 Páginas Azuis
Sai o delegado folclorizado pela indefectível gravata e por ser um diferente na Segurança Pública. “Peço desculpas que não tenha dado uma segurança melhor ao Ceará dos senhores”, disse, após a última entrevista como secretário
O aviso no portal do inferno d´A Divina Comédia, de Dante Alighieri, serve de mote e brincadeira para o secretário Roberto Monteiro delinear o que foi sua passagem pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) do Ceará. ?Deixai aqui toda esperança, você que entra?, traduz. Risos.
Feito Dante, mas sem um Virgílio para guiá-lo num desconhecido, Monteiro deixa transparecer que experimentou por quatro anos um purgatório na pasta da Segurança. Momentos difíceis, arriscados, mas nunca determinantes para pôr o cargo à disposição. ?Quando entro numa missão, vou até o fim?, sustenta.
Na crise mais ?perigosa? que enfrentou, confessa o delegado aposentado da Polícia Federal, teve medo de ver no fogo a própria vida profissional. Carreira construída em mais de 26 anos de batente e sem ter se envolvido em corrupção ou outro pecado mortal do cotidiano policial.
O perigo o rondou, recorda-se, no episódio da descoberta de um plano para sequestrar o filho de um empresário cearense. Avisado da trama pelo serviço de inteligência da Secretaria, Monteiro optou por prevenir a família do garoto em vez de determinar que a delegacia especializada tomasse providências para evitar o crime.
O sequestro aconteceu e, no auge da crise, Cid Gomes o chamou cobrando explicações. Ao governador, teve de dizer que não confiava no delegado que comandava, na época, a Delegacia Antissequestro. Aí, revela Monteiro, foram dias de tormentas até conseguirem resgatar o adolescente com vida. ?O senhor imagine, eu, se esse menino morre. Estava derrotado?.
Mas como em A Divina Comédia, a atmosfera desesperadora provocada pelo sequestro foi apenas um dos cenários tensos que Roberto Monteiro teve de purgar. Talvez o pior, o que lhe deixe mais frustrado na saída, tenha sido a incapacidade de fazer com que investigações nas delegacias e Corregedoria tivessem mais êxito e respostas ao crime no Estado e contra a corrupção policial. ?Incisivo eu fui ao máximo, às vezes até carreguei um pouco na mão. Porque esse problema é muito sério. Mas não vi resultados?.
Na antevéspera do Natal, dia 23, Roberto Monteiro deu a última longa entrevista como secretário da Segurança do Ceará. Um diálogo de mais de duas horas em sua mesa de reuniões. Para o delegado, único a permanecer quatro anos ininterruptos na pasta, em alguns momentos faltou apoio de instituições como OAB, Defensoria e Ministério Público. Como no instante em que proibiu que delegados e PMs exibissem presos como troféus em programas policialescos ou em jornais. ?Vai ficar uma coisa folclórica. Vai voltar?. Leia a seguir trechos da conversa.
O POVO – O senhor se sente frustrado por não conseguido diminuir o problema da corrupção policial no Ceará? Ou de não ter sido mais incisivo com o assunto?
Roberto Monteiro – Eu me sinto frustrado, mas não por não ter sido incisivo. Eu fui mais incisivo… hoje mesmo (dia 23) estou exonerando um delegado (pede que o nome não seja divulgado por causa dos encaminhamentos ainda iniciais do caso). Este delegado pegou uma placa clonada e colocou em dois veículos. Num carro da Fiat e numa Parati da Polícia. Pegou essa Parati, tirou toda a adesivação e está usando como se fosse dele, mas com uma placa clonada. Só que, vamos dizer… avança o sinal, infrações mil, e a conta indo para a coitada proprietária do carro. Agia deliberadamente.
OP ? O episódio é semelhante ao de Juazeiro (em que policiais foram presos acusados de se apropriarem de um carro apreeendido clonado, em dezembro).
Monteiro ? É, igualzinho. Só que o de Juazeiro era um carro apreendido. Este, não. O carro da mulher está na casa dela e ela levando multa. Acredito que tenha sido informações de dentro.
OP ? Há quanto tempo esse delegado estava fazendo isso?
Monteiro ? Não sei. Mandei exonerar e abrir inquérito. Pelo artigo 311 do Código Penal (?Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento. Reclusão de três a seis anos e multa. Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão dela, a pena é aumentada de um terço?). Voltando à primeira pergunta, incisivo eu fui ao máximo, às vezes até carreguei um pouco na mão. Mas o que não vi foi resultado. Temos um sistema de Corregedoria – e o governador já sabe, tanto é que vai mudar – muito falho, capenga. Ela recebe as notícias e apura. É uma Corregedoria fazedora de sindicâncias, só isso.
OP ? Quem trabalhou junto ao Governador essa ideia da nova Corregedoria com status de Secretaria? Ou a ideia partiu dele?
Monteiro ? Dele próprio. Uma coisa que ele ficou revoltadíssimo foi com o pessoal que usou a viatura como motel. ?Estavam fazendo isso, dentro da viatura…cadê?… quero botar na rua?, ele acha a coisa muito emperrada. E é verdade. Tanto é que tenho guardado aqui uma resenha (com seleção de matérias e notas sobre a SSPDS nos jornais locais). E botei o nome ?Só!? (para identificar o documento). No O POVO, coluna Vertical de 25 de julho de 2008. Saiu a nota (passa a ler) ?Só: No período de abril a junho deste ano, a Corregedoria Geral dos Órgãos de Segurança Pública avaliou cerca de 400 processos envolvendo policiais militares, civis e bombeiros acusados de infrações. Deste total, só pediu a punição em dois casos. Há corregedores revoltados?. Guardei isso e de vez em quando lembro do ?Só!?. Isso é de julho de 2008. Fazia um ano e meio que estava aqui. Essa ideia da nova Corregedoria surgiu mais ou menos em maio, então a gente procurou dar a ela uma outra conotação. Ali surgiu a ideia de criar uma delegacia de crimes funcionais. A gente estava querendo mudar a Corregedoria.
OP ? Só para crimes de policiais, não para os demais servidores?
Monteiro ? É. Mandei o pessoal para outro Estado, visitaram, conheceram esse exemplo que funciona às mil maravilhas em São Paulo. Minas Gerais também. Trouxeram a ideia e a gente começou a implementar, para criar uma delegacia. Não foi criada, levei ao governador, ?vamos resolver?, não foi resolvido. Mas agora, no caso de Juazeiro, foi grave. Ali é uma máfia enorme. A gente afastou oito pessoas, fora dois ainda presos. Foi aí que surgiu a ideia da Corregedoria fazer inquérito. Temos casos aqui escabrosos que se arrastam há anos. Vou dar exemplo de uma pessoa que é tida como uma vestal da Segurança Pública, que saiu da Corregedoria: Ronaldo de Melo Bastos. Eu tinha Ronaldo na alta conta. Nos últimos anos, antes da minha chegada aqui, qual foi o fato ou crime mais importante que houve aqui e que deveria se apurar com todo rigor?
OP ? Há pelo menos dois: o Caso França (em 1997, de um policial que denunciou uma rede de crimes policiais) e a morte do lagosteiro (Cláudio Kmentt, em 2004).
Monteiro ? Caso Lagosteiro. Esse foi para as mãos do doutor Ronaldo antes de eu chegar aqui. Estava com ele. Aí, dona Elisa Gradvohl (empresária do setor hoteleiro, naval e de pesca) foi presa pela Polícia Federal, ano passado (durante a Operação Luxo, que investigou aquisição irregular de importados). Quando ela foi presa, acendeu minha luz amarela, ?Ih, o caso, a imprensa vai vir aqui e perguntar?. Liguei para a doutora Adriana (Câmara, delegada corregedora) e perguntei como estava o caso. ?Doutora, venha aqui com o doutor Ronaldo e eu quero saber como está, diga a ele para trazer os autos?. Lembrei que foi no dia que viajei a Curitiba para minha cirurgia. ?Doutor, como está o caso?? ?Doutor, não pude fazer nada, pá pá pá…?. O que está nos autos? Se os senhores tiverem dúvida, não acreditem em mim, vão lá nos autos do inquérito. Peçam a um advogado que tem poder de acesso aos autos. O último ato que ele tinha praticado neste inquérito havia sido em junho de 2007. Estávamos na primeira semana de julho de 2009. O último ato havia sido um depoimento do doutor (Luis Carlos) Dantas (superintendente da Polícia Civil). ?Doutor, aqui está cheio de dicas que o senhor pode pedir. Por que não pede??. Não, não sei o quê. ?Doutor, o senhor vinha aqui e me pedia, pedia ao doutor Armando (Costa, corregedor)?. Aí ele disse, ?se quiser, passe o inquérito para outro?. Eu disse ?não, o senhor vai até o fim do inquérito. Não vou passar para outro delegado, assim, só pela falência desse inquérito?. ?Doutora Adriana, pegue todas as sindicâncias dele, ele vai fazer só isso. E, doutor, o senhor tem 60 dias para concluir?. Tem que pedir prazo. Além de montar sobre o inquérito, ele não submetia ao Ministério Público. Medo? Não sei. O fato é que não fez. Então, realmente saio daqui um pouco frustrado.
OP ? A operacionalidade baixa nos casos vem de quê? É vício, estrutura, medo, comodismo, falta de cobrança? A que se atribui?
Monteiro ? Vai de caso a caso. Acho que a pessoa que tem compromisso, não precisa de alguém que fique lhe vigiando. A pessoa que realmente quer fazer, ela faz.
OP ? Existem grupos ou quem seja mais forte que a Polícia aqui no Ceará?
Monteiro ? Não acredito. Têm um grupo, é…, mas não é forte. Se quiser debelar, debela. Mas não é uma coisa assim… poderosa, não é.
OP ? Faltou apoio do governador para debelar esse grupos? O amparo devido?
Monteiro ? Não posso fazer uma avaliação dessas porque é muito complexa. Quem gere um órgão como esse lida com muitas variáveis. Com problemas administrativos. Às vezes é a dinâmica dos acontecimentos que leva a gente a uma atitude.
OP ? Qual foi seu momento mais difícil aqui?
Monteiro ? Têm momentos difíceis e momentos de perigo. O momento de perigo que assumo como o mais difícil, que pôs minha história em risco, foi quando sequestraram o filho de um empresário (em 2008). Por quê? A Inteligência sabia que ia haver um sequestro, só não sabia com quem (da família). Chamei aqui o empresário e contei. ?Vai haver, não sabemos quem é…?. Fui bem franco, ele ficou bastante consternado. Aí, uns oito dias depois, sequestram o menino de dentro da escola. Quer dizer, iam sequestrar? Iam sim. Mas quando? No dia que o menino foi sequestrado, me ligam oito e meia da manhã, havia reunião do Mapp (Monitoramento de Ações e Programas Prioritários, do Governo Estadual), fui chamado na residência oficial pelo governador. Estava o empresário, mais alguém que não lembro. ?Doutor, por que o senhor não avisou à Delegacia Antissequestro (DAS) que a família estava em perigo??. Contei a história. O governador falou ?o senhor fale, chame o doutor Dantas, tudo que for necessário para resgatar esse menino, faça. O senhor está dispensado dessa reunião. Corra atrás?. Aí me reuni aqui com o doutor Jaime (de Paula Pessoa, então titular da DAS). O senhor imagine, eu, se esse menino morre. Estava derrotado.
OP ? Quanto tempo de polícia?
Monteiro ? Na Polícia Federal, 26 anos. De história que iria ser jogada fora. E poderia ser até processado e condenado. Sei lá…
OP ? Como vê a sua imagem perante a opinião pública?
Monteiro ? Se perguntar a pessoas esclarecidas, alguns formadores de opinião, talvez até me vejam com boa imagem. Se perguntar ao povão, devem me olhar como uma figura folclórica. ?O gravatinha, que não deixa mostrar a cara dos bandidos?, acho que é essa a imagem perante boa parte da população, é a que é passada a eles. E vão olhar até com certo alívio. ?Olhe, vem um cara melhor… e tal?.
OP ? Se fosse ficar mais quatro anos, o que faria de diferente?
Monteiro ? Essa pergunta é complicada. Comprometedora. Prefiro não responder.
OP ? Agora o senhor é conhecedor da realidade cearense…
Monteiro ? É como se eu perguntasse ao senhor se pudesse voltar aos seus 18 anos hoje, com a experiência que o senhor agora tem, o que iria fazer? É complicado. Se fosse pegar mais quatro anos, ia ter toda exigência, atitude. Mas se chega uma pessoa nova…Se já é uma pessoa daqui, se se coloca um quadro da Segurança Pública daqui, vai ter uma vantagem que não tive. Tinha uma vantagem que era a isenção. Para mim, exonerar ou punir alguém é indiferente. Só quero olhar a legalidade e a legitimidade do ato. É fundamental conhecer. Acho que precisa mudar a Corregedoria, precisa ser reestruturada. A ideia do governador, acho muito boa, embora tenha dito pra ele que há críticas. O governador quer criar uma carreira de corregedor. A Julita Lemgruber (socióloga, ex-diretora do sistema penitenciário do Rio de Janeiro), no livro Quem Vigia os Vigias, condena e outras autoridades condenam. Quem tem que investigar polícia é polícia.
OP ? O senhor está com uma sensação de alívio por estar saindo?
Monteiro ? Não há dúvida. Isso aqui, eu já disse, deveria se colocar uma frase ?Lasciata tutta esperanza voi che entrate? (risos). Já brinquei muitas vezes. É o seguinte: no inferno de Dante (autor de A Divina Comédia), no pórtico de entrada do inferno ele botou: ?Deixai aqui toda esperança você que entra? (mais risos). Eu até brinco muito com os outros secretários de segurança, nas reuniões do Conselho (Nacional de Secretários de Segurança). No livro Sem Saída, o Jean Paul Sartre diz: ?O inferno é o outro?. Aí eu digo, o Sartre diz que o inferno é o outro porque ele nunca foi secretário de segurança pública (risos). Perguntaram se eu iria repetir a dose, eu disse: ?Olhe, o camarada que é secretário de Segurança durante quatro anos, que se dedica totalmente e quer continuar, ou ele é louco ou está mal intencionado (risos).
OP ? O que precisa ser mudado no Ronda?
Monteiro ? O Ronda é um programa que começou lá em cima, depois entrou em decadência. Aliás, não diria decadência, mas começou a ter problemas. Era um programa de muito prestígio, mas começou a decair em qualidade por causa do desvio comum (de conduta). Esses desvios de conduta causaram incômodo. O Ronda hoje já é tido como uma polícia que bate, já tivemos casos de extorsão, casos que enodaram a imagem do Ronda. É um programa que está precisando de ajustes, mas são ajustes de controle. Não na filosofia do programa. É um maior controle da conduta dos policiais, maior proximidade entre os chefes. É preciso que os chefes assumam o Ronda, que a polícia toda assuma o Ronda.
OP ? O governo, no começo, acreditava que o espírito dessa polícia diferente iria inundar a polícia antiga. Não aconteceu.
Monteiro ? É, não conseguiu. Há uma certa resistência.
OP ? Os desvios de conduta se parecem com os da antiga polícia.
Monteiro – A gente tem mais de 2 mil homens trabalhando no Ronda. Quando falo desvio, é desvio grave. Não é porque o policial bateu a viatura e está respondendo a sindicância ou cometeu certo erro. Falo da conduta que fere a moral, a ética, a lei. Bater, extorquir, torturar. Casos como esses a gente tem um número que não deve chegar a 50. Num universo de 2 mil, 50 casos é zero vírgula alguma coisa, mas é o que ressalta. E não é todo mundo, temos homens e mulheres sérios. Quer ver outro desvio de conduta? O cara pego dormindo na viatura. Vários e vários casos. Precisa ter um monitoramento sério. Acho que o Ronda precisa de correções. Há outras coisas que causam animosidades. Vou dar o exemplo. O governador estendeu a gratificação do Ronda a todos os policiais que queiram trabalhar no mesmo regime (seis dias de trabalho e um de folga, com oito horas de expediente). Os coitados que estão numa cidade pequena, tem três homens num dia e três no outro. Ou seja, trabalham num regime de 24 por 24 horas. Se eu quiser implantar a gratificação do Ronda pra esses homens, teriam que trabalhar oito horas por dia. Não dá para fazer. Resultado: eles não ganham. O senhor acha que vão estar satisfeitos? É um dos óbices que precisará ter criatividade para solucionar.
OP ? O que o senhor acha estar deixando de bom?
Monteiro ? Deixamos de bom uma postura de intolerância com o erro, uma postura de austeridade. Não sei se isso continuará. Mas já senti nos últimos meses um despertar da Polícia Civil para isso. Não tanto da PM. Acho que vou deixar uma boa herança. O uso de viaturas, a seriedade no trato da coisa pública. Outra coisa que tentei implantar, o respeito incondicional aos direitos humanos. O caso da não exibição de presos. Isso daqui a alguns meses vai ser olhado como um passado folclórico, ?do tempo do gravatinha…?.
OP ? Acha que vai voltar?
Monteiro ? Com certeza, já está voltando. Semana passada, não tomei uma atitude para não criar um último inimigo no meu apagar das luzes. Estava lá, na primeira página do jornal, o comandante do Ronda (Werisleik Matias) com um revólver na mão e do lado dele um preso. O normal, como fiz lá por volta de junho e fiz com outros delegados, seria rua, outro comandante, sindicância, mas… Dou isso como exemplo para dizer que a coisa vai voltar. Vai passar. E também não tive aliados em relação a isso. Nunca a OAB representou criminalmente ou acionou alguém por danos morais. Nunca o Ministério Público, nunca a Defensoria. Vai ficar uma coisa folclórica. Foi um rio que passou em minha vida e pronto. A jogatina está em plena atividade como se nada tivesse acontecido. Tem que ter um compromisso, não só do secretário, mas de segmentos bem maiores.
2004
Caso lagosteiro
No, dia 17 de dezembro daquele ano, Cláudio Kmentt foi morto a tiros.
5
volumes do processo
No Judiciário, os autos do Caso Lagosteiro estão sob segredo de justiça
PERFIL
Roberto Monteiro, 64, largou a ideia de fazer um curso de mestrado no exterior, quando aceitou o convite do então recém-eleito governador Cid Gomes. Recebeu uma ligação na noite do dia 24 de dezembro de 2006, segundo contou certa vez ao O POVO. Teria chegado ao Ceará por indicação do ex-ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A pasta da Segurança Pública e Defesa Social costuma ser um carma para todo governante local, justamente porque os ocupantes do gabinete da SSPDS tornam-se perecíveis no meio do mandato – ou menos que isso. Feito inédito, Monteiro concluiu os quatro anos. Foi aplaudido quando o Ronda saiu às ruas, mas depois vieram crises com setores das polícias, a proibição de exibir presos publicamente e reclamações da população sobre a sensação de insegurança. Acabou a cota.
A entrevista com Roberto Monteiro foi solicitada há cerca de dois meses. Foram pelo menos três adiamentos.
A assessoria chegou a confirmar duas vezes a conversa, que acabou remarcada. Mnteiro quis falar mais próximo de sua saída do cargo – isso também por orientação do Palácio Iracema.
Monteiro falou com O POVO na antevéspera do Natal, dia 23. Por mais de duas horas, já no final da tarde. Até ali, Cid Gomes não havia anunciado seu novo secretariado.
Por isso não comentou a nomeação do novo secretário da Segurança, coronel Francisco Bezerra. Monteiro era o único do staff do governador que já havia confirmado publicamente desinteresse em permanecer no cargo.
Delegado federal aposentado, Roberto Monteiro reafirmou que pretende dar um tempo das funções policiais. Voltar-se para o descanso, estudos e a família: ?Vou voltar para Curitiba (onde mora), tirar um ano sabático. Para estudar, frequentar cursos, viajar um pouco com minha mulher. Talvez fazer um Mestrado. Eu pensava nessa ideia quando tinha 60 anos. Hoje tenho 64?.
Monteiro fala fluentemente inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e russo. Sua erudição é visível no vocabulário ou nas citações literárias que costuma usar.
A gravata que adota inclusive reforça esse seu perfil. Certa vez, ao O POVO, defendeu que o modelo borboleta é muito mais prático para seus afazeres.
O momento que assumo como o mais difícil, que pôs minha história em risco, foi quando sequestraram o filho de um empresário (em 2008)
Perguntaram se eu iria repetir a dose, eu disse: ?O camarada que é secretário de Segurança durante quatro anos, que se dedica totalmente e quer continuar, ou ele é louco ou está mal intencionado?
(O Ronda) era um programa de muito prestígio, mas começou a decair em qualidade por causa do desvio comum (de conduta)
Cláudio Ribeiro
claudioribeiro@opovo.com.br
Demitri Túlio
demitritulio@opovo.com.br