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Mais uma inaceitável inversão de valores

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Opinião Pág. 02 27.01.2010
A inversão de valores, no Brasil, deixou de ser exceção e virou regra. A sociedade assiste estupefata a perseguição àqueles que simplesmente cumprem com o seu dever. A defesa de bandidos de colarinho branco está extrapolando os limites da ficção. Pior, os que buscam a verdade e a justiça são ferozmente perseguidos, desqualificados e ameaçados.
As forças do atraso e sua mídia conservadora, venal e golpista fabricam crises incessantemente porque não se conformam perder uma nesga sequer dos seculares privilégios. Para tanto encetam campanhas contra quem se põe no seu caminho. Quando é conveniente, atacam violentamente o parlamento, colocando no mesmo saco os bons e os maus políticos. O Executivo, quando olha com bons olhos para os excluídos é bombardeado com violência irracional como aconteceu em 1964.
Mas nunca se viu fazer o mesmo com o Poder Judiciário. A indústria de liminares é intocável, a venda de sentenças é denunciada até mesmo por magistrados, mas não se vê os (ir)responsáveis na cadeia ou mesmo perdendo o cargo. Quando muito, são aposentados proporcionalmente. Isto tem sido regra no Brasil, notadamente nos últimos anos.
O que está sendo feito com o juiz Fausto De Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal de São Paulo, é inaceitável, é irracional, é um crime. Tudo porque ele, corajosamente, tem cumprido à risca com o seu dever de magistrado. Seu ?erro? é insistir em botar na cadeia bandidos de colarinho branco, gente poderosa como o banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity, e os diretores da construtora Camargo Corrêa, flagrados com a mão na massa da corrupção, da lavagem de dinheiro e evasão de divisas.
A ira do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes (ou Gilmar Dantas, conforme o jornalista Ricardo Noblat), tornou-se patológica. Ele não se conforma com a decisão de De Sanctis de mandar duas vezes para a cadeia o seu protegido Daniel Dantas. Contra o dono do Opportunity não existem só evidências, mas provas concretas de banditismo.
A mesma ira o ministro nutre com relação ao também correto delegado federal Protógenes Queiroz, comandante da Operação Satiagraha, responsável por desvendar a bandidagem de Daniel Dantas. Protógenes Queiroz e o delegado Paulo Lacerda, ex-diretor-geral da Abin foram afastados dos seus cargos, punidos por cumprir o dever. Tudo com a conivência do quinta-coluna Nelson Jobim.
Agora, noutra inversão de valores, o presidente do STJ, César Asfor Rocha, decide suspender todas as ações do juiz Fausto De Sanctis. Uma tristeza!
Messias Pontes – Jornalista