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FAMILIARES DE DANIELA MATOS ESPERAVAM POR JUSTIÇA HÁ 14 ANOS

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16.11.10
Mirelly Morais
?Estamos aliviados, satisfeitos, mesmo sabendo que a luta por justiça continua, pois já recorreram da decisão e o assassino está foragido, talvez nunca cumpra sua pena?, declara entristecida Georgina Matos, uma das irmãs de Daniela Matos Mendonça, vítima da fúria do ex-companheiro, o vendedor Pedro Conrado da Cruz Neto, que a matou com um tiro na nuca, há 14 anos, em 14 de dezembro de 1996. O filho do casal, na época com apenas dois anos, assistiu ao assassinato da mãe. Ele pegou 20 anos de reclusão.
Nos últimos 10 anos, o Cariri tem se caracterizado como um dos principais focos de violência contra a mulher. Em números proporcionais, é a terceira região do país em mulheres assassinadas. Duas delegacias de Defesa da Mulher foram instaladas, uma em Juazeiro do Norte e outra no Crato. Mesmo assim, os índices de assassinatos e agressões revelam que os criminosos não se inibem. Na delegacia da mulher, em Juazeiro do Norte, a média é de 40 atendimentos por mês, mais de um por dia. No ano de 2009, 18 mulheres foram assassinadas, enquanto em 2002, ano da matança seqüenciada, o número foi de 23 vítimas em toda região. E o ano de 2010 já superou esta marca, com 24, até meados de novembro.
Julgamento aconteceu à revelia
O acusado, Pedro Conrado, está foragido desde o crime. Ele foi julgado à revelia, na terça-feira, 9, pois não compareceu em nenhuma das vezes que foi notificado pela Justiça. O Juiz Ademar da Silva Lima condenou o réu a 20 anos de prisão, inicialmente em regime fechado, por homicídio duplamente qualificado. Pedro Conrado, hoje com 44 anos, pode ser preso em qualquer lugar que se encontre. Filho do inspetor da Polícia Civil, Dagmar Grangeiro Cruz, Pedro está em lugar incerto e não sabido, segundo afirmou o seu advogado.
O representante do Ministério Público, promotor Leonardo Gurgel, que defendeu a condenação do réu nos termos da pronúncia de homicídio qualificado, impossibilitando a defesa da vítima, ainda pediu o fim da onda de violência contra a mulher em Juazeiro.
Os familiares de Daniela Matos Mendonça, há 14 anos, esperavam por justiça e o crime fazia parte das tristes estatísticas de vítimas femininas no Cariri, sem julgamento e condenação dos réus. A esperança de outras famílias atingidas pelo mesmo crime é de que o julgamento de Daniela seja apenas o primeiro e sirva de exemplo para que o poder judiciário cumpra seu papel e julgue todos os casos que continuam esperando por justiça na região.
O Conselho da Mulher Cratense acredita que houve um grande avanço após a Lei Maria da Penha, em vigor desde 2007, mas alguns tabus ainda precisam ser quebrados. Para a conselheira Verônica Neves Carvalho, os casos da matança sequenciada de mulheres no Cariri, em 2002, continuam na impunidade, em reflexo de uma sociedade machista. ?É uma cultura que demanda tempo e formação para se mudar?, lamenta. Ela considera que ainda falta uma maior articulação entre as redes de atenção as mulheres.
Manifestação
O Conselho Municipal dos Direitos da Mulher do Crato (CMDMC) promove, em parcerias com diversos órgãos defensores dos direitos das mulheres, o evento ?16 dias de ativismo?, entre os dias 20 de novembro e 10 de dezembro, na cidade do Crato. Serão várias atividades, como rodas de conversas com as mulheres ?mães de presos?, celebrações, atos públicos sobre a Consciência Negra e Direitos Humanos, ações globais nos Bairros e Seminário Municipal da Mulher.