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Doutor Rochinha

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09.02.2011 opinião
A falta de reconhecimento do verdadeiro mérito do cearense, por seu conterrâneo, é uma triste realidade. Disse-me o ilustre livreiro Gabriel que gratuitamente arranjou inimigos, o primeiro cearense que publicou um livro pela Editora Saraiva, de São Paulo. Um jurista do sul do País foi convidado, ano passado, para proferir palestra em evento jurídico realizado aqui em Fortaleza, e sua primeira manifestação foi dizer aos presentes que estava encabulado em palestrar sobre aquele tema porque, aqui no Estado do Ceará, tinha um mestre no assunto, no caso, o Dr. José de Albuquerque Rocha. Dessa ingratidão foi alvo um dos homens mais brilhantes, competentes, decentes, não carreirista, no caso, o saudoso doutor José de Albuquerque Rocha, conhecido por todos como Doutor Rochinha. Poucos meses antes do seu falecimento, conversamos muito exatamente sobre a falta de reconhecimento de homens de reais/verdadeiros valores de nossa terra, por nós cearenses. O Doutor Rochinha foi um inigualável magistrado de primeiro grau, ingressando no Poder Judiciário do Ceará através da via democrática do concurso público, de provas e de títulos, e não pela via da indicação política como ocorre com alguns membros dos nossos Tribunais. Autor de diversos livros no campo do Direito; professor da UFC e Unifor e também palestrante em diversos eventos jurídicos, inclusive fora do Brasil. Quem com ele conviveu sabe da sua competência, lhaneza e de como era avesso à bajulação, sabendo dar valor a quem realmente o tinha. Repudiava homenagens adredemente buscadas, bem como os acessos não merecidos aos cargos da nação brasileira, assuntos esses que comentava com pessoas de sua estrita confiança. O Doutor Rochinha desencarnou no ano passado, deixando saudades e uma lacuna muito grande, notadamente no meio jurídico brasileiro, sem sequer ter recebido uma só homenagem, nem mesmo uma medalha, muito comumente entregue pelo Poder Judiciário e pela imprensa local. Ele, na verdade, não precisava de nenhuma comenda. Até a dispensava, pela sua humildade. Todavia, o Estado do Ceará ficou, sim, devendo-lhe uma justa homenagem.
Agapito Machado – juiz federal e professor Universitário