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Polícia Federal investiga venda de hotel no Ceará

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21.11.2010 Ceará
O contrato de arrendamento de um empreendimento no Trairi seria parte de um projeto de investidores espanhóis que pretendia abranger praias do Ceará. Mas terminou na justiça por suspeita de lavagem de dinheiro
A disputa por um empreendimento na praia de Flecheiras, no município de Trairi, litoral oeste do Ceará, foi parar na justiça. Construído na década de 90, o hotel Solar das Flecheiras, é hoje motivo de embate judicial entre o empresário Décio Sanford e um grupo de investidores espanhóis.
A origem da discórdia iniciou-se em 2006 quando Décio Sanford, proprietário do Solar das Flecheiras, resolveu entrar num negócio envolvendo o hotel. O uruguaio Erick Carlos Steffen Laraia intermediou o arrendamento do empreendimento para o filho e a nora – Alexandre Cruz Steffen e Paula Regina Piloni.
O arrendamento foi fechado por um período de 84 meses, sendo que nos primeiros sete, a parcela de locação seria de sete salários mínimos. Depois disso, segundo Décio Sanford, o acordo previa o pagamento de 13 mínimos mensais. O contrato previa ainda a opção de compra do imóvel ao fim de 18 meses pelo valor de R$ 1 milhão.
Um mês antes de se completarem os 18 meses de contrato, o que se parecia um bom negócio, virou uma trama com acusações de suspeita de lavagem de dinheiro, registro de boletim de ocorrência e ameaças. Suspeitas que levaram o Ministério Público Federal a encaminhar à Polícia Federal o pedido de abertura de inquérito para investigar supostas irregularidades na entrada de recursos estrangeiros destinados ao arrendamento do Solar.
A entrada da PF e Ministério Público Federal se deu a partir da entrada de um grupo de investidores espanhóis. O Solar das Flecheiras, segundo O POVO apurou, seria uma peça na engrenagem a ser montada pelos investidores espanhóis que visava investir pesado no litoral cearense por meio do arrendamento ou compra de hotéis nos próximos cinco anos.
A entrada dos espanhóis no negócio, todavia, não se deu diretamente com Décio Sanford, e sim, através de várias modificações no contrato inicial de locação. Na época do arrendamento a Alexandre, o Solar das Flecheiras passou a se chamar Solar das Velas.
Em outubro de 2008, com o contrato social alterado, Alexandre vendeu todas as ações para a Quest Investimentos e Participações Ltda e a S&S Empreendimentos Imobiliários Ltda. Cada uma com 50% das cotas acionárias. O curioso é que Alexandre e a esposa eram os próprios donos da Quest Investimentos. A S&S Empreendimentos surge no negócio como uma empresa do clube de investimentos espanhol Inversiones Colo 73 S.I., sediada em Barcelona.
Menos de um mês depois do novo contrato, os espanhóis da S&S compram todas as cotas da Quest, e assumem o antigo Solar das Fleixeiras. Com um detalhe, transferem 100% das cotas para empresa a Orixás Patrimonial Negócios Imobiliários.
Ao transferir 100% das cotas para a Orixás Patrimonial Negócios Imobiliários, porém, os espanhóis da a S&S não deixam o negócio, já que também são sócios da Orixás. O Solar das Fleixeiras, que já havia trocado de nome para Solar das Velas, muda mais uma vez e passa a se chamar Nootka Beach Hotel.
O que
ENTENDA A NOTÍCIA
O litoral do Ceará tem sido alvo nos últimos anos de vários litígios, envolvendo desde disputas de terra entre investidores estrangeiros e proprietários locais, bem como relativos a agressões ambientais.
SAIBA MAIS
Os advogados da Inversiones afirmam que como clube de investimento, eles tinham interesse em entrar no segmento de turismo no Brasil, por isso foi criada a Orixás Patrim. Negócios Imobiliários.
Os planos da empresa, que chegaram a ser apresentados a investidores em países da Europa, contemplava a criação de pacotes turísticos no Ceará.
Com relação as modificações no contrato inicial de arrendamento, os advogados afirmam que a S&S Empreendimentos é uma empresa brasileira com aporte de capital estrangeiro que tem como sócio o clube de investidores espanhol.
Segundo os advogados, quando ficaram sabendo que o Ministério Público Federal estava acompanhando o caso, eles teriam se antecipado e apresentado toda a contabilidade e a origem dos recursos investidos nos empreendimentos que seriam registrados no Banco Central.
O advogado Laerte de Castro ressalta que o Solar nunca deu lucro. Mesmo não tendo dado lucro no período em que esteve arrendado, os advogados afirmam que o grupo espanhol investiu cerca de R$ 1 milhão nesse período.
Luiz Henrique Campos