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Desapropriação de imóveis paralisa urbanização

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01.02.2011
A urbanização do entorno da Lagoa do Papicu está parada, sem dia para terminar. Problemas na retirada de dois imóveis impedem a continuidade da construção de um conjunto habitacional feito para abrigar famílias da comunidade conhecida como Pau Fininho. Desde maio de 2010, nada é feito por ali. A questão compromete ainda as obras de equipamentos comunitários às margens do espelho d?água. A construção de calçadões, canteiros, quadras de esporte, pista de skate e a recuperação ambiental da lagoa dependem da desocupação.
Enquanto a nova casa, com teto firme, piso de cimento e noites sem medo da chuva não chega, muitas famílias ? cerca de 600, segundo moradores – seguem vivendo às margens da lagoa e à mercê da incerteza. E mais gente continua chegando. Quem não foi cadastrado pela Prefeitura, em 2007, entretanto, sofre ao pensar nas possibilidades do futuro.
Depois de viver algum tempo em um acampamento do Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra (MST), Francisca Ildemeire Costa, 39, soube da invasão nas dunas do Papicu e se mudou. Levou dois dos cinco filhos e a vontade de conseguir vida melhor. Chegou depois do cadastramento e ficou sem vaga nos novos apartamentos. ?Vou fazer um lugar aqui mesmo pra mim. Não sei se lá em cima (nas dunas) ou lá perto da boca de lobo (às margens da lagoa)?, diz. Enquanto as tábuas e a lona suficientes para a montagem da casa não aparecem, Ildemeire conta com a ajuda dos vizinhos e da família. ?Cada dia durmo num canto e meus outros filhos moram com a minha irmã. Queria trazer eles pra cá?, relata.
No aguardo
Já Raimunda Nonata dos Santos, 58 anos, há nove no Pau Fininho, se cadastrou ?três vezes? e agora espera a entrega da nova casa. ?A Prefeita prometeu entregar em dezembro (do ano passado). Depois disseram que recomeçariam a obra em fevereiro e entregar em abril. Já é fevereiro, não??, questiona, em tom de indignação. ?Se não tem condições de fazer, que entregue e cada qual termine sua casa?, sugere Nonata, que trabalha com reciclagem. ?Enquanto isso, a gente fica aqui tomando chuva?, lamenta.
Apesar de estar cadastrado para receber um apartamento dos novos prédios, o marceneiro Ricardo Costa Silva, 27, garante que não vai sair da casa atual. ?Não vou ter onde criar meus bichos de estimação?. Na porta de casa, gaiolas abrigam galinhas e, pelas vielas da região pode ter certeza de que qualquer carneiro encontrado é dele. ?Se fosse uma indenização, eu comprava algum canto. Mas não querem dar indenização?, diz. ?Aqui é bom. É perto de posto (de saúde), de hospital, da praia?, lembra.
O quê
ENTENDA A NOTÍCIA
A desapropriação do entorno da Lagoa do Papicu faz parte do projeto de urbanização do local. A Prefeitura pretende criar um local de lazer, além de unidades habitacionais que abrigarão os moradores da comunidade do Pau Fininho
Mariana Lazari
marianalazari@opovo.com.br