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Armas continuam no IPPOO

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08.02.2011 Polícia
Criminosos que não conseguiram fugir no último sábado estariam com revólveres e pistolas escondidos no presídio
A denúncia partiu ontem de agentes penitenciários que trabalham no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira II (IPPOO II). Detentos que não conseguiram fugir durante o resgate registrado na tarde de sábado passado, permanecem nas celas com armas de fogo, entre elas, pistolas e revólveres. “Três presos armados correram em direção ao local da confusão, mas não deu tempo de também fugirem, então, voltaram para a Vivência com as armas “, contou um servidor.
A Polícia acredita que, com base no relato dos agentes penitenciários que acabaram virando reféns, outros presidiários estariam armados. Dez conseguiram fugir. Os demais recuaram na hora do tiroteio dos PMs que estavam na muralha com o grupo de bandidos que foi ao presídio resgatar os comparsas.
Indisciplina
Em meio aos últimos acontecimentos, os agentes penitenciários decidiram falar. Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, na noite de ontem, a presidente do Sindicato dos Agentes e Servidores do Sistema Penitenciário do Estado do Ceará (Sindasp), Maria do Socorro Marques Brito, apresentou documentos que foram encaminhados pela categoria à Secretaria da Justiça denunciando uma série de irregularidades no gerenciamento do IPPOO II.
O mais grave é que as denúncias foram endereçadas à Sejus a partir de outubro de 2009 e, desde então, a Secretaria não deu sequer uma resposta à categoria. Entre os fatos denunciados, a ordem da diretora do presídio, Ruth Leite Vieira, para que os agentes tornassem menos rígida a disciplina nas Vivências um, quatro, cinco e seis, que estariam, na versão da direção, ´pacificadas´.
Na véspera do resgate dos presos, a direção teria liberado os detentos destas unidades para que ficassem livres das celas até o dia seguinte, pois eles iriam participar de uma vigília religiosa. Os presos também tinham acesso livre à direção. Além disso, as câmeras do presídio apenas registram as cenas, nos corredores, sem gravá-las.
A secretária da Justiça, Mariana Lobo, também concedeu entrevista sobre o assunto. Informou que no IPPOO II foram encontrados croquis (mapas), anotações e três telefones celulares, que serão encaminhados à Polícia Civil. Mariana anunciou a criação de um Núcleo de Inteligência para atuar no Sistema Penal. (Colaborou, Armando de Oliveira Lima).
POSICIONAMENTO
Presidente da OAB defende os colegas
O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Secção Ceará (OAB-CE), Valdetário Andrade Monteiro, saiu ontem em defesa dos advogados que estavam no Instituto Presídio Professor Olavo Oliveira (IPPOO II), no último sábado (5), quando ocorreu o resgate de dez detentos de dentro da unidade prisional. Monteiro disse que os defensores prestaram depoimentos à Polícia como testemunhas, e não como suspeitos.
Segundo ele, os advogados aguardavam para falar com seus clientes quando agentes penitenciários foram rendidos por detentos armados de pistola e revólver, enquanto outro grupo, fortemente armado, que estava do lado de fora do presídio ´metralhou´ a unidade. O bando possibilitou uma fuga cinematográfica dos presos, entre eles, o sequestrador, latrocida e assaltante de bancos e carros-fortes, Alexandre de Sousa Ribeiro, o ´Alex Gardenal´.
Insegurança
De acordo com Monteiro, os profissionais de Direito estavam no presídio exercendo suas funções constitucionais quando foram surpreendidos com a ação criminosa, inclusive correndo risco de morte. “Não há nenhum indício de ligação deles com a fuga”, argumentou. Para o presidente da OAB/CE, o resgate ocorreu, não pela presença dos advogados, mas sim, pela “total insegurança” do presídio.
Monteiro ressaltou que, “a Ordem sai em defesa do livre exercício profissional e da apuração da responsabilidade pela fuga”. Conforme a OAB, é comum advogados ´visitarem´ seus clientes no sábado, pois, durante a semana, eles estão no Fórum.
O presidente da OAB ressaltou também que, desde setembro do ano passado, a instituição, através da Comissão de Direito Penitenciário, vem denunciando problemas de segurança no IPPOO II e em outras unidades prisionais do Estado. “As dificuldades encontradas, como a falta de detectores de metal, ausência de câmeras, aparelhos de raio x, não existiram apenas no sábado, elas já vêm de muito tempo. Elas é que facilitaram a fuga”, salientou.
A situação do presídio, de acordo com a OAB, foi informada à Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) e à Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus).
Segundo Monteiro, OAB posiciona-se em favor da advocacia criminal, o que segundo ele, “reforça a necessidade de apuração dos fatos, como falhas estruturais e não pontuais, como a presença de advogados exercendo suas funções”.
FERNANDO RIBEIRO
EDITOR DE POLÍCIA