Dicas de livros para refletir o papel da mulher na sociedade

A guerra não tem rosto de mulher – Svetlana Aleksiévitch 

O que é ser mulher em tempos de guerra? Escondidas nas narrativas eminentemente masculinas sobre histórias de guerra, as mulheres estiveram presentes em diversos conflitos, seja na retaguarda, seja na própria linha de frente.  

É na forma de jornalismo literário que Svetlana Aleksiévitch, vencedora do prêmio Nobel de Literatura em 2015, reconstrói essas experiências a partir do relato de diversas mulheres russas contemporâneas da 2ª Guerra Mundial. A partir da ressonância de muitas vozes, conhecemos experiências que evocam morte, mas também de estratégias de sobrevivência e resiliência. 

 

Independência do Brasil: As mulheres que estavam lá – Heloísa Starling e Antonia Pellegrino (org.)

A forma como a história é contada produz silenciamentos sobre determinados grupos. Quando pensamos na história do Brasil, onde estavam as mulheres? Será que elas não participavam das decisões e lutas pelos rumos do país?  

Nesse livro, Heloísa Starling e Antonia Pellegrino reúnem ensaios de escritoras brasileiras contemporâneas que vão contar a história de mulheres que estiveram presentes e participaram do processo de independência do Brasil. Conhecemos Bárbara de Alencar, Maria Quitéria, Ana Lins e outras mulheres essenciais e que tiveram suas conquistas apagadas pelo curso da história: na maior parte das vezes, escrita por homens. Com esse livro, sabemos que as mulheres estavam e sempre estiveram lá.  

 

Aurora: O despertar da mulher exausta – Marcela Ceribelli

Marcela Ceribelli, criadora da Obvious, fala sobre medos, desejos, fantasias e pressões às quais as mulheres são submetidas. Como lidar com a ditadura da beleza, com padrões irreais e expectativas impossíveis de serem atingidas, além de desmistificar a falácia de que as mulheres devem ser guerreiras e dar conta de tudo são algumas das temáticas trazidas nessa obra. Um convite às mulheres que estão exaustas das demandas que elas mesmas, bem como a sociedade, implicam em seus corpos, em suas personalidades e em seus relacionamentos. 

Como encontrar caminhos menos adoecedores para essas pressões? Marcela intercala experiência pessoal, estudos científicos e comentários de especialistas para apontar possíveis formas de um despertar mais amoroso.  

 

A amiga genial – Elena Ferrante

“A Amiga Genial” é o primeiro livro da série napolitana escrita por Elena Ferrante. A história se passa em Nápoles, Itália, e acompanha a vida de duas amigas, Elena Greco e Raffaella Cerullo, desde a infância até a vida adulta. O livro explora não apenas a amizade complexa e às vezes tumultuosa entre as duas protagonistas, mas também os desafios sociais, econômicos e culturais que elas enfrentam ao longo das décadas.

Quanto ao papel das mulheres, o livro oferece uma perspectiva rica para reflexão. Ele retrata as limitações e expectativas impostas às mulheres na sociedade da época, bem como as lutas e aspirações individuais das personagens femininas. Elena e Raffaella têm ambições diferentes, mas enfrentam obstáculos similares em um mundo dominado por normas patriarcais. O livro permite que os(as) leitores(as) reflitam sobre a evolução das personagens à medida que buscam seu lugar no mundo, questionam as convenções e desafiam as expectativas tradicionais. Através dessas histórias, os(as) leitores(as) podem examinar o poder da amizade, a busca pela identidade pessoal e o impacto da sociedade na trajetória das mulheres.

 

História do novo sobrenome – Elena Ferrante

“A História do Novo Sobrenome” é o segundo livro da série napolitana escrita por Elena Ferrante. A narrativa continua a explorar a complexa relação entre Elena e Raffaella, agora chamada de Lila. A trama se concentra em suas vidas após o casamento de Lila e suas tentativas de buscar independência e satisfação pessoal, enquanto Elena continua a sua educação e carreira como escritora.

O livro aborda temas como a evolução das personagens femininas, suas lutas por identidade, a busca por realização e as interações com uma sociedade que muitas vezes limita as oportunidades das mulheres. Através da história das duas amigas, o livro reflete sobre como as mulheres enfrentam desafios sociais, emocionais e profissionais em um contexto cultural que frequentemente as subestima.

A relação entre Elena e Lila também permite explorar a complexidade da amizade feminina, a competição, a influência mútua e o apoio que podem moldar as trajetórias de vida das mulheres.

 

História de quem foge e de quem fica – Elena Ferrante

“História de Quem Foge e de Quem Fica” é o terceiro livro da série napolitana escrita por Elena Ferrante. A narrativa continua a explorar as vidas de Elena e Lila em um contexto de mudanças sociais e políticas na Itália nas décadas de 1970 e 1980. As personagens continuam a lutar com questões de identidade, relacionamentos e ambições pessoais.

O livro aborda como as personagens femininas se adaptam às transformações do mundo ao seu redor, ao mesmo tempo em que enfrentam desafios específicos relacionados a serem mulheres em uma sociedade muitas vezes restringida por expectativas de gênero. A história permite refletir sobre o equilíbrio entre aspirações individuais, responsabilidades familiares e o desejo de contribuir para o mundo em um ambiente que muitas vezes não valoriza plenamente as mulheres.

 

História da menina perdida – Elena Ferrante 

“História da Menina Perdida” é o quarto e último livro da série napolitana escrita por Elena Ferrante. A narrativa chega a um desfecho, acompanhando as vidas adultas de Elena e Lila, suas escolhas e consequências. A trama continua a explorar temas de identidade, relacionamentos, maternidade e a luta das mulheres por autonomia e realização.

A série como um todo, incluindo “História da Menina Perdida”, permite refletir sobre o papel das mulheres na sociedade, a evolução de suas vidas e relacionamentos em um contexto de mudanças sociais, políticas e culturais. A história de Elena e Lila oferece uma lente para observar como as mulheres podem influenciar umas às outras, apoiando-se mutuamente ou, às vezes, competindo, em sua busca por identidade, sucesso e felicidade.

Além disso, o quarto livro também aborda temas mais amplos, como o envelhecimento, a passagem do tempo e como as experiências das mulheres podem ser marginalizadas ou apagadas pela sociedade.

 

Sejamos todos feministas – Chimamanda Ngozi Adichie

“Sejamos Todos Feministas” é um livro escrito por Chimamanda Ngozi Adichie, que também é conhecida por suas obras de ficção, como “Meio Sol Amarelo” e “Americanah”. O livro é uma versão expandida de uma palestra que a autora deu em 2012 no TEDx, na qual ela explora suas ideias sobre feminismo e igualdade de gênero.

O livro aborda de forma concisa e direta as questões fundamentais do feminismo e como todos, independentemente do gênero, podem contribuir para alcançar uma sociedade mais justa e igualitária. Chimamanda Ngozi Adichie explora como o sexismo e os estereótipos de gênero afetam as vidas das mulheres em diferentes contextos e como o feminismo é um movimento que busca a equidade e a eliminação dessas desigualdades.

O livro pode ajudar a refletir sobre o papel das mulheres na sociedade, bem como o impacto do sexismo e das expectativas de gênero em suas vidas. Também estimula a considerar como o feminismo não é apenas uma luta das mulheres, mas uma questão que diz respeito a todos, uma vez que busca igualdade e justiça para todos os gêneros. “Sejamos Todos Feministas” oferece uma introdução acessível ao feminismo e às discussões sobre igualdade de gênero, convidando os(as) leitores(as) a se engajarem em questões de empoderamento e equidade.

 

Madame Bovary – Gustave Flaubert

“Madame Bovary” é um romance escrito por Gustave Flaubert e publicado pela primeira vez em 1857. A história acompanha a vida de Emma Bovary, uma jovem mulher insatisfeita com sua vida no interior da França do século XIX. Ela se casa com Charles Bovary, um médico de classe média, na esperança de escapar da monotonia e das limitações de sua vida, mas acaba se sentindo desencantada e infeliz.

O romance “Madame Bovary” pode ajudar a refletir sobre o papel das mulheres na sociedade do século XIX e, de certa forma, ainda é relevante para discutir o papel das mulheres em muitas sociedades contemporâneas. Emma Bovary é retratada como uma mulher presa em um casamento que não atende às suas expectativas, enfrentando limitações sociais e repressão de suas ambições e desejos individuais.

O livro oferece uma análise profunda das restrições impostas às mulheres na época, destacando como as expectativas sociais e as normas de gênero podem limitar severamente suas opções e autonomia. Emma busca escapar dessas limitações, mas encontra um mundo que muitas vezes a deixa em uma posição ainda mais vulnerável.

Através da personagem de Emma, o livro ilustra as complexidades das lutas internas e externas enfrentadas pelas mulheres quando tentam se libertar das restrições sociais e se afirmar como indivíduos independentes.

 

Mrs. Dalloway – Virgínia Woolf

“Mrs. Dalloway” é um romance escrito por Virginia Woolf e publicado em 1925. O livro se passa em um único dia na vida de Clarissa Dalloway, uma mulher da alta sociedade londrina, enquanto ela se prepara para uma festa que dará à noite em sua casa. A narrativa também intercala a história de Septimus Warren Smith, um veterano da Primeira Guerra Mundial que luta contra transtornos mentais.

O romance explora as complexidades da vida interior dos personagens, mergulhando em seus pensamentos, memórias e emoções. Através das perspectivas de Clarissa e Septimus, o livro aborda questões como identidade, as pressões sociais, o envelhecimento, os desafios mentais e as normas de gênero.

O livro pode ajudar a refletir sobre o papel das mulheres, particularmente o papel das mulheres na sociedade inglesa pós-Primeira Guerra Mundial. Clarissa Dalloway representa a mulher da alta sociedade que é, ao mesmo tempo, uma anfitriã socialmente respeitada e uma pessoa com pensamentos e desejos próprios. O livro aborda as expectativas e as limitações impostas às mulheres dessa classe social, revelando o conflito entre a identidade pessoal e a conformidade social.

Além disso, a personagem de Septimus Warren Smith também permite a reflexão sobre como a sociedade lida com a saúde mental e como as mulheres podem ser afetadas de maneira específica pelas normas e expectativas sociais.

“Mrs. Dalloway” é uma obra rica em introspecção, simbolismo e abordagem psicológica, convidando os(as) leitores(as) a considerar a experiência feminina na sociedade, as lutas internas e as formas pelas quais as mulheres buscam expressar suas individualidades em um mundo muitas vezes restritivo.

 

A Ingênua Libertina – Colette

Um verdadeiro tratado sobre a liberdade, o desejo feminino, o casamento e a maternidade, “A ingênua libertina” foi publicado por Colette em 1909, mas sua leitura em nada nos parece datada ou antiquada. A escritora francesa consegue, com sua protagonista e com uma linguagem lírica e ao mesmo tempo sagaz, fazer um retrato vívido da condição feminina no início do século XX, tantas vezes podada pelas mãos de uma sociedade que exige tudo de mulheres, menos a independência.

Nesta que é uma das obras mais espirituosas de Colette, conhecemos Minne, uma menina atrevida e irreverente que sonha em se juntar a um bando de criminosos de Paris e se aventurar pelo mundo ao lado de um grande amor. Mais tarde, já adulta e casada com um primo, mas frustrada com os rumos que sua vida tomou, ela se lança em casos extraconjugais em busca de prazer e descobertas, embora suas escapadas não saiam exatamente como o esperado.

“A ingênua libertina” convida a reflexões sobre a complexidade das relações, a busca por autenticidade e a luta por autodeterminação, destacando como as mulheres podem tomar o controle de suas vidas e escolhas, mesmo em uma sociedade que muitas vezes tenta limitar sua liberdade.

 

Caderno proibido – Alba de Céspedes

Valeria Cossati queria apenas buscar cigarros para o marido na tabacaria, mas acaba comprando ilegalmente um caderno preto — um item que não poderia ser comercializado aos domingos —, e faz dele seu diário. Estamos na Roma dos anos 1950, e Valeria leva a vida entediante de uma mulher de classe média, dividindo-se entre os papéis de mãe, esposa e funcionária de escritório. Há anos ela não ouve o próprio nome — o marido só a chama de “mamãe” —, e sua relação com os filhos é marcada por conflitos geracionais. Porém, conforme alimenta aquelas páginas proibidas, Valeria começa a notar uma profunda transformação em si mesma — cujas consequências ela ainda não sabe prever.

Alba de Céspedes foi uma das grandes autoras de língua italiana do século XX, com uma obra que se destaca pela profundidade das personagens femininas. Em Caderno proibido, a autora demonstra todo seu talento ao retratar a intimidade de uma mulher comum e as mudanças da sociedade italiana no pós-guerra.

 

A vida invisível de Eurídice Gusmão – Martha Batalha

O livro “A Vida Invisível de Eurídice Gusmão”, escrito por Martha Batalha, é uma obra que se passa no Rio de Janeiro, no final dos anos 1940 e início dos anos 1950, e conta a história das irmãs Eurídice e Guida Gusmão. A narrativa aborda a vida e as trajetórias dessas duas mulheres em uma sociedade tradicional e conservadora, destacando as limitações impostas às mulheres na época.

O livro explora temas como a maternidade, a busca pela identidade, a opressão de gênero, o descontentamento com as normas sociais e as relações familiares complexas. Através das histórias entrelaçadas de Eurídice e Guida, a autora retrata a luta dessas mulheres para encontrar significado e realização em um mundo que muitas vezes as ignora e subestima.

“A Vida Invisível de Eurídice Gusmão” é uma obra que coloca em foco as experiências, aspirações e desafios das mulheres em uma época de mudança social e cultural, lançando luz sobre a importância de se questionar e desafiar as limitações impostas pela sociedade e de buscar o reconhecimento e a autonomia.

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    Publicada em: 26/09/2023