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Opinião – Caminhos e pedras

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23.03.11
Opinião
Depois da dissidência no DEM comandada pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, as inquietações dentro do PSDB começam a mostrar sua face. No Paraná, o ex-deputado Gustavo Fruet, um dos melhores quadros do tucanato, sinaliza que pode deixar a legenda. O motivo imediato é o veto do governador Beto Richa a candidatura de Fruet para a prefeitura de Curitiba no ano que vem. Richa quer apoiar a reeleição do atual prefeito do PSB, Luciano Ducci.
Certamente esse é um bom motivo, mas Fruet deve estar incomodado também com a falta de rumo e projeto do seu partido. A cansativa disputa entre o PSDB de São Paulo e o resto do mundo tucano, muito provavelmente estimula a decisão do ex-parlamentar.
Sinais de tenção também ocorrem no PR. O deputado Sandro Mabel, que vem sofrendo um processo disciplinar no partido, já não esconde que pode deixar a legenda. Mabel disputou a presidência da Câmara com o petista vitorioso Marco Maia, contrariando decisão da executiva do PR. Também estão insatisfeitos, por motivos diversos, com suas respectivas legendas a ex-senadora e ministra Marina Silva do PV, e a senadora Kátia Abreu e o deputado Irajá Abreu, ambos do DEM.
As mudanças partidárias não são exatamente novidades na vida política brasileira. Pelo contrário, elas estão até reduzindo de um certo modo. Nesse momento, entretanto, quando se discute uma eventual reforma política, que se constata a consistência da democracia no País e quando se evidencia o sucesso de 16 anos de governos responsáveis com a macroeconomia (FHC e Lula), apesar das notáveis diferenças entre eles, a vida política e partidária do País começa a assumir outras proporções.
A urgente reforma no Judiciário parece distante e lenta. Mas vem acontecendo bem no nosso estilo. Já a chamada reforma política ? um equívoco e uma farsa ? deveria ser substituída por uma reforma do Estado. Então teríamos de fato consideráveis alterações na vida política do País. A primeira seria a extraordinária redução da corrupção. Como consequência uma expressiva mudança na organização partidária e na relação dos eleitores com os candidatos, eleitos ou não. Aí sim teríamos de fato uma reforma política. Uma reforma natural, inspirada na própria sociedade e suas expectativas. E não esse artifício que se processa no Congresso, com inspiração no Poder Executivo, que tenta, na verdade, minimizar a importância do cidadão na vida política do País. Na verdade, querem que o cidadão seja penas e tão-somente eleitores. Nesse outro cenário, muito provavelmente Fruet, Mabel, Katia, Irajá e Marina caminhariam por outras pedras!
Jorge Cartaxo – Jornalista