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Rede de atendimento à mulher chega a poucos municípios

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09.02.2010 Fortaleza
Larissa Lima – larissalima@opovo.com.br
O companheiro vivia ameaçando. Mas ela gostava dele e, às vezes, estava tudo bem. Até que, um dia, ele alcançou uma faca. Disse que daria fim a ela, aos filhos e, por último, a si mesmo. Acabou preso e, a mulher, a contar a história na Delegacia de Defesa da Mulher (DDM). Pouco tempo depois, ela estava no Centro de Referência da Mulher Francisca Clotilde, da Prefeitura de Fortaleza. O próximo passo era passar uma temporada com os filhos numa casa abrigo sigilosa. No Ceará, um atendimento assim só poderia ter acontecido na Capital.
Em outros seis municípios, a vítima também teria encontrado uma DDM. Em quatro, ela teria um centro de referência especializado com suporte jurídico e psicológico. No entanto, nos municípios onde há delegacia, não há o centro. Fora de Fortaleza, não existem casas abrigo, que recebem as mulheres com risco de morte, apesar de a Capital receber caso do Interior. No Estado, são apenas duas casas, com aproximadamente 60 vagas. Mas as mulheres não vão sozinhas, vão com os filhos, e cada equipamento acaba recebendo em média seis famílias.
“Tem períodos em que as casas estão sobrecarregadas e a tendência também é crescente. Aí, não dá conta da realidade da demanda“, afirma a presidente do Conselho Cearense dos Direitos da Mulher, Hermenegilda Silva. A delegada titular da DDM de Juazeiro do Norte, Marluce Ferreira de Andrade, diz não encaminhar as mulheres para as casas abrigo em Fortaleza pela dificuldade de transporte.
“A casa abrigo não comporta nem mesmo os problemas de Fortaleza. Não tem como Fortaleza atender o Cariri. Se a pessoa não quer voltar para casa, a gente entra em contato com outros órgãos. O pessoal do Creas (Centro de Referência Especializado de Assistência Social) abriga enquanto se resolve o problema mais urgente. Às vezes a mulher não quer voltar para casa, mas tem a casa de um familiar“.
Mesmo em Fortaleza, onde há uma capilaridade maior da rede de atendimento às mulheres, a única DDM não dá conta do número de denúncias, que só aumenta. “A gente não está conseguindo atender a contento essa demanda, apesar de trabalhar diuturnamente“, afirma a delegada titular, Rena Gomes Moura, acrescentando que as denúncias que chegam agora à delegacia só terão inquérito realizado em abril. O aumento de processos também chega ao limite do Juizado de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher em Fortaleza. “Temos uma boa estrutura, mas não é a ideal pelo número de processos“, afirma a juíza Rosa Mendonça, titular do órgão.