Conteúdo da Notícia

Cid considera insubordinação

Ouvir: Cid considera insubordinação

Pólícia Pág. 13 15.09.2009
“Isso para mim beira a insubordinação. É um ato de desobediência e um desrespeito a ordem judicial. Já há uma determinação pessoal, minha, ao secretário (da Segurança Pública, Roberto Monteiro) para que o ponto seja cortado”. A afirmação foi feita, ontem, pelo governador do Estado, Cid Gomes, em rápida entrevista à Imprensa, no Palácio Iracema, após a solenidade de posse dos novos 74 delegados e 216 escrivães da Polícia Civil. Cid se referiu à greve dos policiais civis reiniciada na semana passada.
A direção do Sindicato dos Polícias Civis (Sinpoci) tentou protestar dentro do Palácio Iracema durante a solenidade. Contudo, a segurança do Palácio, formada por PMs da Casa Militar, impediu a entrada dos manifestantes e eles tiveram que protestar contra o Governo em frente a entrada dos convidados.
Exibindo uma faixa com a frase “Sr. Governador. Pegue leve, policial corrupto não faz greve”, em uma alusão a frase de Cid Gomes, durante a visita do Presidente Lula ao Ceará, os sindicalistas foram observados de perto por policiais militares fardados e da segurança pessoal do governador.
Irritação
No seu discurso para os novos delegados e escrivães, Cid exaltou as ações do governo na área da Segurança Pública, quando foram investidos, segundo ele, R$ 243 milhões, em dois anos e meio, contra R$ 80 milhões nos quatro anos do governo anterior. No fim da solenidade, durante a rápida entrevista coletiva à Imprensa, o governador demonstrou irritação quando o assunto passou a ser a nova greve da categoria.
Para Cid Gomes, não há mais espaço para negociação se o tema for aumento de salário. “O governo tem, em todas as oportunidades, dado aumentos diferenciados, além da expectativa da inflação, especificamente para os policiais civis”, ressaltou. Cid destacou ainda que outro aumento foi concedido a categoria, no início de 2008, com ganho real de quase 25%.
“Não é possível você ficar o tempo todo dando aumento diferenciado para a categoria… Essa é a segunda greve que eles fazem em menos de 45 dias. A Justiça já considerou ilegal e determinou a volta ao trabalho e eles tiveram uma postura que não é de quem atua na área de Segurança e deve zelar pela lei, se escondendo do oficial de Justiça para não serem intimados”.
Cid não descartou a possibilidade do Governo entrar com uma nova liminar pedindo a ilegalidade da greve.
PREJUÍZO SOCIAL
População continua sendo afetada
A dificuldade da população para encontrar uma delegacia onde estivessem sendo realizados procedimentos continuava ontem, após um fim de semana tumultuado pela greve dos policiais civis. Pela manhã, algumas das delegacias listadas pelo Sindicato dos Policiais Civis (Sinpoci) como responsáveis pelos procedimentos não estavam obedecendo à escala da greve. “Eu já passei por duas delegacias que deveriam estar funcionando hoje e não consegui nada”, reclamou a doméstica Antônia Gildênia Teixeira, 37.
Gildênia precisava, apenas, tirar uma guia cadavérica complementar para poder liberar o corpo do pai, de 85 anos, falecido no último domingo de causas naturais. “Estou sofrendo, minha família também. Tudo o que queremos é sepultar o meu pai para que ele descanse em paz. Mas isso está ficando cada vez mais difícil”, lamentou.
A ´saga´ de Gildênia começou às 5 horas, no prédio do Serviço de Verificação de Óbito (SVO), em Messejana (zona sul da Capital) onde ela foi informada de que necessitaria de uma guia complementar para liberação do corpo do pai.
“No SVO me disseram que eu fosse para o 8º DP, no José Walter, porque lá estava o plantão da greve durante a madrugada. Cheguei lá e tudo já estava sendo transferido para outra delegacia. Me informaram, então, que eu devia seguir para o 13º DP, na Cidade dos Funcionários, porque era a delegacia que ia assumir o plantão da greve”, contou.
No 13º DP, a doméstica foi avisada de que a delegacia não estava atendendo à escala estabelecida pelo Sinpoci. “Isso é uma falta de respeito. Enquanto eu gasto dinheiro e perco meu tempo rodando a cidade toda para tirar essa guia, o corpo do meu pai está lá, preso no SVO”, disse. Do 13º DP, novo dissabor, Gildênia foi encaminhada para o 1º DP, no Bairro Elleri (zona oeste da Capital).
No 1º DP, o atendimento estava sendo realizado normalmente, conforme a escala estabelecida pelos grevistas. O delegado Vagner Diniz Leite, titular daquela distrital, afirmou que todos os procedimentos que chegassem ali seriam realizados. “Até agora só fizemos Boletins de Ocorrência (B.Os.). Foram 12 em uma hora e meia, a maioria por perda de documentos. Não chegou nenhum flagrante ainda”, ressaltou Diniz.
Segundo o delegado, dois escrivães estavam trabalhando ontem, durante o dia, naquela delegacia distrital. Na noite passada, a situação voltou a se complicar, como apenas uma delegacia da Capital e outra, da Região metropolitana, abertas ao público para a realização de flagrantes e a expedição de guias e formulação de B.Os.
Na manhã de domingo último, a suspensão do atendimentos nas delegacias consideradas Pólos Plantonistas resultou num acúmulo de serviço na única distrital que estava de portas abertas, o 30º DP (São Cristóvão). Por volta de 11 horas, a situação ali era de filas de pessoas aguardando o registro de queixas. Do lado de fora, várias viaturas da Polícia Militar e até um dos rabecões da Perícia Forense do Estado (Pefoce).